segunda-feira, setembro 18, 2006

Só porque hoje é domingo

Não sei quando adquiri esse hábito. Acho que por força do meu trabalho, talvez por excentricidade ou nenhum deles, questão de inspiração mesmo. O que sei é que só escrevo aos domingos. É incrível como as palavras fluem, as idéias surgem e os versos revelam-se em sua pureza.
Na verdade não sei o que há de especial nos domingos. Gosto de ver os fiéis se dirigindo às igrejas, divirto-me com as turmas de amigos se reunindo para farrear, me encantam as crianças felizes por não terem aula e poderem brincar o dia inteiro, alegra-me a alegria dos pais com os filhos nos parques, nas praças, nos zoológicos dando pipoca aos macacos, acho bonito as madames passeando com seus cãezinhos de raça, suspiro ao ver as moças suspirando por seus amores, admiro os adeptos da vida saudável que se exercitam ao sol, me dão esperança de longos dias os velhinhos que jogam damas despreocupadamente, frustra-me a cara descontente de quem precisa trabalhar enquanto outros folgam.
Ainda não sei o que há de especial nos domingos, mas gosto deles, é dia de festa, de alegria, de descanso, de trabalho, é dia de aguardar rancorosamente a chegada da segunda-feira. Gosto especialmente dos domingos que caem aos domingos, sim, porque alguns domingos meus caem na segunda e até numa quinta já tive um, só que esses não servem para nada, neles não há fiéis, amigos, crianças, pais e filhos, madames e cachorrinhos, suspiros de moças, geração saúde, velhinhos, e a cara de todos é descontente por precisarem trabalhar.
Que ótimo, hoje é domingo e eu estou trabalhando (ou escrevendo?) com a cara descontente de quem precisa trabalhar, ama o que faz, mas odeia trabalhar num domingo.
Hoje é domingo, tem futebol na TV, também tem muita porcaria, tem programas que apelam prá baixaria e correm atrás de audiência desqualificada, estúpida e ignorante, que sente prazer em consumir o que não presta e rejeita aquilo que é indispensável para uma vida intelectual saudável.
É, hoje é domingo, o dia mais esperado da semana é também o que passa mais rápido, por que será?
Independente do que passa na TV, do que passa na vida dura e sofrida, do que passa na insensatez, na estupidez humana, eu me pergunto: Porque eu só escrevo aos domingos?

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