Uma frase a ser ditaE a boca silenciaO que mais dizer Se o silêncio é mais importante?O grito não ouvido esvai-se na vacuidadeAprofunda-se na superficialidade por escolhaQuando não se tem opçãoLutar contra o desesperoDe-se-esperarA voz calada, sufocada e sem somO que gera dor não pode ser amorE o amor não pode ser um ardorNão adianta disfarçarO que se sente é patenteLatente é a menteQue sempre mente
Reflexões sobre um horizonte intransponívelNada mais são do que reflexos da almaComo astros vagueiam perdidos no espaçoÀ espera de que os descubram numa luneta invisívelQuantos anos-luz serão necessários até lá?Até que desabem os sóis que já estão apagados?O que me inspira é a transpiração das idéiasQue fervilham em seus invólucros impenetráveisComo magma expelido de um coração em fúriaProvocando sismos nas antimatériasAté que a morte os separe de todo erroErrar será sempre humano, demasiado humanoPara onde será que vai o amor quando acaba?Não, não vai, vira algo que não foi descoberto aindaQue seja, o não-amor, o buraco negro da desilusãoQue somente em conjectura existe, se é que existeSendo estrela anã, luminosa e incandescenteAo sol não se oferece o privilégio da fugaAos segredos eternos não se tem acessoPortas fechadas são à pobre razão humanaPois esta nem a si mesma compreendeMuito menos o que concerne ao infinitoO espaço-tempo de todos os sentimentosSe abrirá para contemplar as estrelas cadentes
Envelhecer esquecido em um cantoComo trapo imundo e imprestávelEis a existência mal vividaDesperdiçada no desenrolar dos anosA longevidade é pura ilusão inocenteA senilidade indesejável é iminenteDegradação das forças de outroraEstilhaça as conquistas apodrecidasPode ser que se espere sempre algo maisE se conquiste ainda um último consoloTornando mais real o que sempre se sonhouDistribuída em partes iguais toda a serenidadeQue lição tirar do esquecimento?Dele não há lembrança que resistaPois nada resiste ao tempoE quando o vento espalha, o adeus é fatal
Foi só mais um acaso previsívelDesses que acontecem todo diaE nos remetem às indagaçõesDe quanto vale nossa vidaNos iguais as diferenças se acentuamComo repetições de virtudes viciosasQue desabam em loucuras casuaisOu simples surpresas da noiteEm certo momento o momento é incertoDuvidosa certeza que não se comprometeE se revela sem camuflada belezaNa maioria absoluta dos rejeitadosSuficiente prudência dos imprudentesDesentoando o clamor dos inocentesRevivendo acasos suspeitosPremeditações nada casuaisE hoje é só mais um dia que se repeteE com ele todas as frustrações de ontem
Quais são os interessesE quem são os interessados?Se tudo o que interessaNão é interessante?Tudo o que se percebeNão é o que deveria ser percebidoA percepção foi desenvolvidaPara nada perceberTodos se importam com algoMenos com o que é importantePor que importar-seNão importa a ninguémA quem darei atençãoSe nenhum de nós é atendidoE aqueles a quem atendemosNão atendem a ninguém?Então, que importância têmA percepção, o interesse e a atenção?
Então a velhice é uma realidadeSe os anos me ensinaram algoDecidi não aprender muitoNão sou disciplinado o suficienteTalvez às rugas eu dê ouvidosElas são mais realistas do que euSão marcas que não se pode desprezarPois se impõem e contra elas não adianta lutarNão percebi as folhas caindoNem quantas primaveras se foramVerões se passaram e não vi o solInvernos esfriaram meu estéril coraçãoNão aguardo mais os dias futurosSeus frutos serão dores e enfadoAguardo somente a luz se apagarE a morte alegre me consolar
A força precisa encontrar coragemPara prevalecer sem se dobrarRevelar-se mas não se imporConstruir a partir dos destroçosO futuro se apresenta hojePreservando a memória dos diasAcreditar na força do silêncioÉ abrir portas para o destinoQue existe e será breve