sexta-feira, maio 25, 2007

Uma frase a ser dita
E a boca silencia
O que mais dizer
Se o silêncio é mais importante?
O grito não ouvido esvai-se na vacuidade
Aprofunda-se na superficialidade por escolha
Quando não se tem opção

Lutar contra o desespero
De-se-esperar
A voz calada, sufocada e sem som

O que gera dor não pode ser amor
E o amor não pode ser um ardor

Não adianta disfarçar
O que se sente é patente
Latente é a mente
Que sempre mente

quarta-feira, maio 09, 2007

Reflexões sobre um horizonte intransponível
Nada mais são do que reflexos da alma
Como astros vagueiam perdidos no espaço
À espera de que os descubram numa luneta invisível

Quantos anos-luz serão necessários até lá?
Até que desabem os sóis que já estão apagados?

O que me inspira é a transpiração das idéias
Que fervilham em seus invólucros impenetráveis
Como magma expelido de um coração em fúria
Provocando sismos nas antimatérias

Até que a morte os separe de todo erro
Errar será sempre humano, demasiado humano

Para onde será que vai o amor quando acaba?
Não, não vai, vira algo que não foi descoberto ainda
Que seja, o não-amor, o buraco negro da desilusão
Que somente em conjectura existe, se é que existe

Sendo estrela anã, luminosa e incandescente
Ao sol não se oferece o privilégio da fuga

Aos segredos eternos não se tem acesso
Portas fechadas são à pobre razão humana
Pois esta nem a si mesma compreende
Muito menos o que concerne ao infinito

O espaço-tempo de todos os sentimentos
Se abrirá para contemplar as estrelas cadentes
Envelhecer esquecido em um canto
Como trapo imundo e imprestável
Eis a existência mal vivida
Desperdiçada no desenrolar dos anos

A longevidade é pura ilusão inocente
A senilidade indesejável é iminente
Degradação das forças de outrora
Estilhaça as conquistas apodrecidas

Pode ser que se espere sempre algo mais
E se conquiste ainda um último consolo
Tornando mais real o que sempre se sonhou
Distribuída em partes iguais toda a serenidade

Que lição tirar do esquecimento?
Dele não há lembrança que resista
Pois nada resiste ao tempo
E quando o vento espalha, o adeus é fatal
Foi só mais um acaso previsível
Desses que acontecem todo dia
E nos remetem às indagações
De quanto vale nossa vida

Nos iguais as diferenças se acentuam
Como repetições de virtudes viciosas
Que desabam em loucuras casuais
Ou simples surpresas da noite

Em certo momento o momento é incerto
Duvidosa certeza que não se compromete
E se revela sem camuflada beleza
Na maioria absoluta dos rejeitados

Suficiente prudência dos imprudentes
Desentoando o clamor dos inocentes
Revivendo acasos suspeitos
Premeditações nada casuais

E hoje é só mais um dia que se repete
E com ele todas as frustrações de ontem

segunda-feira, maio 07, 2007

Quais são os interesses
E quem são os interessados?
Se tudo o que interessa
Não é interessante?

Tudo o que se percebe
Não é o que deveria ser percebido
A percepção foi desenvolvida
Para nada perceber

Todos se importam com algo
Menos com o que é importante
Por que importar-se
Não importa a ninguém

A quem darei atenção
Se nenhum de nós é atendido
E aqueles a quem atendemos
Não atendem a ninguém?

Então, que importância têm
A percepção, o interesse e a atenção?

quinta-feira, maio 03, 2007

Então a velhice é uma realidade
Se os anos me ensinaram algo
Decidi não aprender muito
Não sou disciplinado o suficiente

Talvez às rugas eu dê ouvidos
Elas são mais realistas do que eu
São marcas que não se pode desprezar
Pois se impõem e contra elas não adianta lutar

Não percebi as folhas caindo
Nem quantas primaveras se foram
Verões se passaram e não vi o sol
Invernos esfriaram meu estéril coração

Não aguardo mais os dias futuros
Seus frutos serão dores e enfado
Aguardo somente a luz se apagar
E a morte alegre me consolar
A força precisa encontrar coragem
Para prevalecer sem se dobrar
Revelar-se mas não se impor
Construir a partir dos destroços

O futuro se apresenta hoje
Preservando a memória dos dias

Acreditar na força do silêncio
É abrir portas para o destino
Que existe e será breve