quarta-feira, outubro 29, 2008

EU VI!!

Eu vi a miséria dormindo ao relento
Esquecida pelos homens sem coração
Apodrecendo a vida que não pôde viver
Exalando o pútrido odor da indiferença

Eu vi a riqueza arrotando arrogância
Com tédio e fastio por sua situação
Exilada em seus automóveis blindados
Aprisionada em condomínios à prova de gente

Eu vi a polícia implantando o medo
Nas almas de quem deveria proteger
Esquecendo as leis que foi chamada a cumprir
Batendo primeiro e perguntando depois

Eu vi o governo chafurdando na lama
A lama suja e apodrecida da corrupção
Fazendo o jogo de interesses da minoria abastada
Desprezando a maioria miserável a aflita

Eu vi a mídia manipulando a informação
Divulgando mentiras encobrindo a verdade
Achando graça da ignorância do povo
Perpetuando o engano das massas

Eu vi o capital ganancioso e faminto
Expropriando os bens de quem nada tem
Explorando a pobreza em favor da riqueza
Acumulando o que não irá consumir

Eu vi a esperança fazendo galhofa
Gargalhando de todos que a julgavam morta
Mais viva que nunca a tudo observa
Aguarda apenas o dia certo raiar

terça-feira, outubro 14, 2008

A vida sente-se a si mesma
Numa rede de ligações contínuas
Sem independências, sem exclusões
Não há nada que seja só e exista para si

Uma árvore que seja somente árvore
Deixará para sempre de ser árvore
A soma de suas partes nunca a completará
Ficará incompleta, imprecisa e vã

O que se busca é a resposta que já existe
Se estamos aqui é para saber para o quê estamos
E quando descobrirmos o que está por trás disso
Acabaremos pensando em outra coisa

O que pouco nos importa é o que mais importa
E o que se sente não faz nenhum sentido
O que nos controla não regula a si mesmo
E se perde no redemoinho das loucas vaidades

Eu sei que os sinos dobram por mim
A mim as coisas se mostram como realmente são
Essas são as portas, quem as adentrará?
De onde vem o vento, para onde ele vai?

Céus e terra, cogitos e filosofias
Vaidade de vaidade, tudo é vaidade
Uma parte leva à outra e tudo se liga
E se une e se quebra e se renova

Onde estão as bases? Ruíram!
Os papéis mudaram, os atores são os mesmos
Assim como os erros em outros tempos
Aqui se faz, aqui se paga, será?

Será uma incógnita sempre perseguida
A que raça pertencemos? Não era a humana?
Assim nos perdemos, nos desumanizando
Enquanto isso os sinos continuam a dobrar