EU VI!!
Eu vi a miséria dormindo ao relento
Esquecida pelos homens sem coração
Apodrecendo a vida que não pôde viver
Exalando o pútrido odor da indiferença
Eu vi a riqueza arrotando arrogância
Com tédio e fastio por sua situação
Exilada em seus automóveis blindados
Aprisionada em condomínios à prova de gente
Eu vi a polícia implantando o medo
Nas almas de quem deveria proteger
Esquecendo as leis que foi chamada a cumprir
Batendo primeiro e perguntando depois
Eu vi o governo chafurdando na lama
A lama suja e apodrecida da corrupção
Fazendo o jogo de interesses da minoria abastada
Desprezando a maioria miserável a aflita
Eu vi a mídia manipulando a informação
Divulgando mentiras encobrindo a verdade
Achando graça da ignorância do povo
Perpetuando o engano das massas
Eu vi o capital ganancioso e faminto
Expropriando os bens de quem nada tem
Explorando a pobreza em favor da riqueza
Acumulando o que não irá consumir
Eu vi a esperança fazendo galhofa
Gargalhando de todos que a julgavam morta
Mais viva que nunca a tudo observa
Aguarda apenas o dia certo raiar
A vida sente-se a si mesmaNuma rede de ligações contínuasSem independências, sem exclusõesNão há nada que seja só e exista para siUma árvore que seja somente árvoreDeixará para sempre de ser árvoreA soma de suas partes nunca a completaráFicará incompleta, imprecisa e vãO que se busca é a resposta que já existeSe estamos aqui é para saber para o quê estamosE quando descobrirmos o que está por trás dissoAcabaremos pensando em outra coisaO que pouco nos importa é o que mais importaE o que se sente não faz nenhum sentidoO que nos controla não regula a si mesmoE se perde no redemoinho das loucas vaidadesEu sei que os sinos dobram por mimA mim as coisas se mostram como realmente sãoEssas são as portas, quem as adentrará?De onde vem o vento, para onde ele vai?Céus e terra, cogitos e filosofiasVaidade de vaidade, tudo é vaidadeUma parte leva à outra e tudo se ligaE se une e se quebra e se renovaOnde estão as bases? Ruíram!Os papéis mudaram, os atores são os mesmosAssim como os erros em outros temposAqui se faz, aqui se paga, será?Será uma incógnita sempre perseguidaA que raça pertencemos? Não era a humana?Assim nos perdemos, nos desumanizandoEnquanto isso os sinos continuam a dobrar