quinta-feira, novembro 15, 2007

Olhe, veja a vida a despertar
Do sono profundo, da letargia mortal
Para uma nova luz, um novo mundo
Onde o sonho não acaba jamais

Levante, erga os olhos sem medo
Contemple o céu da novidade
Creia que tudo é possível
E não há mais por que chorar

Seja livre, essa é sua essência
Liberte-se das amarras do medo
"Vá, se mande, junte tudo
O que você puder levar"

Veja, perceba que há flores ao redor
E que ainda há tempo de ser feliz
O sol surgiu, as nuvens se foram
Há uma nova música no ar

Viva, e dessa vez intensamente
Porque os dias são belos
As crianças ainda brincam
E a tristeza é só uma lembrança do passado
Sou o obscuro objeto
De muitos desejos
Um tanto lascivos
Mas pouco atrevidos
De toques sutis
Como zumbido no ouvido

Sou o objeto direto
De uma oração sem sujeito
Com predicados diversos
E adjetivos inúteis
Que muito dizem
Sem nada dizer

Sou um desejo obscuro
Um objeto imundo
Um muro erguido
E corpo no chão
Dedo no gatilho
E tiro no escuro

Sou o escuro tormento
A tempestade fatal
O inútil lamento
O encontro ideal
O corpo erguido
Um muro no chão

Sou o surdo ouvido
Do tiro o estampido
O medo e o gatilho
O muro, o chão, o terror
O corpo estendido
Um mundo ferido
Não vou negar que tenho medo
Do medo de sentir medo
De tudo o que provoca medo

Nem todo soneto termina
Quando o último verso se encerra
Mesmo que ele seja escrito
Antes que a luz se apague

Eu vivo sem fronteiras
Como todo guerrilheiro
Faz da vida sua trincheira

Sou muitas histórias
Vividas numa vida
Sou muitos poemas inacabados
De uma estrofe só

O medo quebra as barreiras
Do dia a dia da solidão
De quem não tem rimas na vida

Sou o berço de muitas ilusões
De tantas que invento por prazer
Sou o vento, a fúria, a fração
Do pântano lodoso da razão

quarta-feira, novembro 14, 2007

Pra onde fugir quando tudo é tão claro
Se não há mais onde firmar os pés?

Agora não sou mais eu, há um Outro em mim
Não há mais diferença ente levantar e deitar

E mesmo que caia, não será para sempre
E a queda sempre será inevitável

Ainda assim se buscará uma fonte de águas
Que sacie a sede eterna e insaciável

E que seja uma rocha, inexpugnável fortaleza
Em que se fundamentem as verdades eternas

De um círculo interminável e sem antagonista
O duelo maniqueísta que não tem explicação

A luz que não ilumina para nada serve
Assim como o sal insípido é lançado fora

não se despreza as voltas que a vida dá
Porque no fim sempre se volta ao início

E se resgata a vontade da maldade
Que se esconde em nós mascarada de bondade

Quem vive na penumbra rejeita a sombra
Que talvez seja o que de melhor há em si
É preciso enxergar o mundo
Com o puro olhar de novidade
Descobrindo-o a cada segundo
Como uma fonte de felicidade

Geração vai e geração vem
Mas a terra permanece para sempre
E o homem inútil despreza esse bem
Esperando que ela o enfrente

Carregado de um cinismo malicioso
O homem destrói e corrompe seu lar
Sem se dar conta do futuro desastroso
Que seus filhos irão experimentar

Quem sabe um dia o sertão vire mar
E desaguem os rios da estupidez humana
E a fumaça cubra tudo e acabe-se o ar
E se acabe de uma vez essa natureza insana

Para ressurgir e florescer novamente
Sem maculas, sem ganância ou CFC
Para que a vida seja livre finalmente
E seu fruto para sempre permanecer
Não há pureza a ser encontrada
Há muito a inocência foi perdida
Somente as ruínas da alma resistem

Mesmo que seja a vida uma arte serena
Não há quem escape da fúria do tempo
E sobreviva às suas investidas

Ainda que os sonhos sejam os mesmos
Não há mais tempo para sonhá-los
Ou abandoná-los a uma vida ressentida

E quando a solidão chegar infinita
O porão da alma se fechará para sempre
Este é o poder do silêncio compartilhado
Duas mãos que se unem em pacto e terno
De serem um nos dias vívidos

Mesmo que se acredite em águas passadas
Os moinhos de vento ainda estão parados
Aguardando com paciência o mover da esperança

Voltar o rosto contra a parede
Talvez denuncie uma hora perdida
Que nunca mais será resgatada

Somente a semente morta viverá
E dará seus frutos a várias gerações
Aos filhos que serão esquecidos

Como se encena uma comédia grega
Assim a vida é vivida nos trópicos
Por falta de motivos para viver

O gosto do pão amargurado de cada dia
Está o suor que escorre do rostos cansados
À espera de alívio para sua fadiga

É um gosto tão antigo quanto a dor
Um sono leve ou desespero
Que leva todos embora daqui