Olhe, veja a vida a despertarDo sono profundo, da letargia mortalPara uma nova luz, um novo mundoOnde o sonho não acaba jamaisLevante, erga os olhos sem medoContemple o céu da novidadeCreia que tudo é possívelE não há mais por que chorarSeja livre, essa é sua essênciaLiberte-se das amarras do medo"Vá, se mande, junte tudoO que você puder levar"Veja, perceba que há flores ao redorE que ainda há tempo de ser felizO sol surgiu, as nuvens se foramHá uma nova música no arViva, e dessa vez intensamentePorque os dias são belosAs crianças ainda brincamE a tristeza é só uma lembrança do passado
Sou o obscuro objetoDe muitos desejosUm tanto lascivosMas pouco atrevidosDe toques sutisComo zumbido no ouvidoSou o objeto diretoDe uma oração sem sujeitoCom predicados diversosE adjetivos inúteisQue muito dizemSem nada dizerSou um desejo obscuroUm objeto imundoUm muro erguidoE corpo no chãoDedo no gatilhoE tiro no escuroSou o escuro tormentoA tempestade fatalO inútil lamentoO encontro idealO corpo erguidoUm muro no chãoSou o surdo ouvidoDo tiro o estampidoO medo e o gatilhoO muro, o chão, o terrorO corpo estendidoUm mundo ferido
Não vou negar que tenho medoDo medo de sentir medoDe tudo o que provoca medoNem todo soneto terminaQuando o último verso se encerraMesmo que ele seja escritoAntes que a luz se apagueEu vivo sem fronteiras Como todo guerrilheiroFaz da vida sua trincheiraSou muitas históriasVividas numa vida sóSou muitos poemas inacabadosDe uma estrofe sóO medo quebra as barreirasDo dia a dia da solidãoDe quem não tem rimas na vidaSou o berço de muitas ilusõesDe tantas que invento por prazerSou o vento, a fúria, a fração Do pântano lodoso da razão
Pra onde fugir quando tudo é tão claroSe não há mais onde firmar os pés?Agora não sou mais eu, há um Outro em mimNão há mais diferença ente levantar e deitarE mesmo que caia, não será para sempreE a queda sempre será inevitávelAinda assim se buscará uma fonte de águasQue sacie a sede eterna e insaciávelE que seja uma rocha, inexpugnável fortalezaEm que se fundamentem as verdades eternasDe um círculo interminável e sem antagonistaO duelo maniqueísta que não tem explicaçãoA luz que não ilumina para nada serveAssim como o sal insípido é lançado foranão se despreza as voltas que a vida dáPorque no fim sempre se volta ao inícioE se resgata a vontade da maldadeQue se esconde em nós mascarada de bondadeQuem vive na penumbra rejeita a sombraQue talvez seja o que de melhor há em si
É preciso enxergar o mundoCom o puro olhar de novidadeDescobrindo-o a cada segundoComo uma fonte de felicidadeGeração vai e geração vemMas a terra permanece para sempreE o homem inútil despreza esse bemEsperando que ela o enfrenteCarregado de um cinismo maliciosoO homem destrói e corrompe seu larSem se dar conta do futuro desastrosoQue seus filhos irão experimentarQuem sabe um dia o sertão vire marE desaguem os rios da estupidez humanaE a fumaça cubra tudo e acabe-se o arE se acabe de uma vez essa natureza insanaPara ressurgir e florescer novamenteSem maculas, sem ganância ou CFCPara que a vida seja livre finalmenteE seu fruto para sempre permanecer
Não há pureza a ser encontradaHá muito a inocência foi perdidaSomente as ruínas da alma resistemMesmo que seja a vida uma arte serenaNão há quem escape da fúria do tempoE sobreviva às suas investidasAinda que os sonhos sejam os mesmos Não há mais tempo para sonhá-losOu abandoná-los a uma vida ressentidaE quando a solidão chegar infinitaO porão da alma se fechará para sempre
Este é o poder do silêncio compartilhadoDuas mãos que se unem em pacto e ternoDe serem um nos dias vívidosMesmo que se acredite em águas passadasOs moinhos de vento ainda estão paradosAguardando com paciência o mover da esperançaVoltar o rosto contra a paredeTalvez denuncie uma hora perdidaQue nunca mais será resgatadaSomente a semente morta viveráE dará seus frutos a várias geraçõesAos filhos que serão esquecidosComo se encena uma comédia gregaAssim a vida é vivida nos trópicosPor falta de motivos para viverO gosto do pão amargurado de cada diaEstá o suor que escorre do rostos cansadosÀ espera de alívio para sua fadigaÉ um gosto tão antigo quanto a dorUm sono leve ou desesperoQue leva todos embora daqui