Tudo por um nada que não satisfazMorte encomendada sem data previstaBalas que se perdem encontrando corpos ao acasoÁguas de amargura rolando de faces amargasDesperdício voluntário do que falta a tantosProduzindo serem famélicos e sem esperançaComo um aborto induzido que não produz culpaAssim caminha a humanidade em seu inferno dantescoTransforma-se todos em bonecos de judasA levar pauladas da vida de quem já morreuPara escapar impune de toda podridãoPor trinta moedas de prata enferrujadasNa devassidão das noites profundasZumbis do infortúnio vagam perdidosÀ caça de vítimas dos seus desejosQue impuros como eles apodrecem a vidaNão se evoca a lama para semprePois a estupidez é estúpida e autofágicaConsome a si mesmo com volúpia e iraReduzindo-se a pó nos desertos do sofrimentoAo fim de tudo, o tudo é um nada de desesperoChafurdando no lodo nojento do egoísmoDaqueles que deixaram de ser há muito tempoQue enquanto existir nos será carrasco
Não sei onde foram parar todas as flores mortasQue um dia enfeitaram meu último leitoPerfumando minha morte para aquecer meu corpo frioColorindo o dia que se vestira de lutoOnde foram parar os risos que alegravam a festaO banquete de hipocrisia que torturava meus diasSaciando a fome dos que se odeiam em harmonia?Não sei o que foi feito dos amores que não viviPaixões torrenciais não me inundaramNem houve ternura para irrigar meu árido coraçãoNem sonhos que povoassem minha noites insonesO que foi feito das festas infantis de riso alegreO mesmo riso que não ecoou em minha infânciaAquele que não faz aprte da memória dos meus dias?
Desejo todos os sonhos do mundoE que neles caiba todo mundoDesejo um dia alegre e festivoCom sol brilhando sem nuvens por pertoSó não desejo a hipocrisia dos descontentesQue disfarçam suas dores a cada carnavalDesejo a fantasia, a magia de ser criançaCriar meus mundos de sonho e verãoSó não desejo o medo de nunca ser felizE ver mortos todos os meus sonhosDesejo a doce chuva de verãoQue refresca a terra e inunda coraçõesDesejo sempre ter a quem amarE todos os dias ser beijado com paixãoSó não desejo a solidão de uma casa vaziaCom seus ecos de alegria do passado
Desperta-me o sol na bela manhãCom raios dourados e calor suaveEscondendo de mim a escuridão da noiteDespertando rosas adormecidasCom sutil beleza aflora para o céuPresenteando-me com um doce perfumeCom cores divinas forma um prismaProduz em mim fantasias matinaisToca minha face a gota do orvalhoQue banhou a rosa do meu jardimAfago sereno que entorpece a almaInundando de gozo meu dia febrilEu sei que durará sua alegriaPor tempo indeterminado ou mais um diaPor longos anos melhor seriaDo que viver e amar sem maestria
Polegar Opositor
Afinal de contas, este sou eu
Humano, demasiado humano
Pó da terra, escória e ilusão
Sopro divino, clímax da criação
Não há argumento que me convença
De que em mim não há consciência
Pois se penso, reflito e me defino
Tenho certeza que existo
Em um simples dia perdi para sempre
A condição primitiva de minha inocência
A reflexão tornou-me uma aberração
No fim o sentimento precede a razão
Muito mais que um polegar opositor
Sou sentimento, razão e conflito interior