quinta-feira, agosto 30, 2007

Tudo por um nada que não satisfaz
Morte encomendada sem data prevista
Balas que se perdem encontrando corpos ao acaso
Águas de amargura rolando de faces amargas

Desperdício voluntário do que falta a tantos
Produzindo serem famélicos e sem esperança
Como um aborto induzido que não produz culpa
Assim caminha a humanidade em seu inferno dantesco

Transforma-se todos em bonecos de judas
A levar pauladas da vida de quem já morreu
Para escapar impune de toda podridão
Por trinta moedas de prata enferrujadas

Na devassidão das noites profundas
Zumbis do infortúnio vagam perdidos
À caça de vítimas dos seus desejos
Que impuros como eles apodrecem a vida

Não se evoca a lama para sempre
Pois a estupidez é estúpida e autofágica
Consome a si mesmo com volúpia e ira
Reduzindo-se a pó nos desertos do sofrimento

Ao fim de tudo, o tudo é um nada de desespero
Chafurdando no lodo nojento do egoísmo
Daqueles que deixaram de ser há muito tempo
Que enquanto existir nos será carrasco
Não sei onde foram parar todas as flores mortas
Que um dia enfeitaram meu último leito
Perfumando minha morte para aquecer meu corpo frio
Colorindo o dia que se vestira de luto

Onde foram parar os risos que alegravam a festa
O banquete de hipocrisia que torturava meus dias
Saciando a fome dos que se odeiam em harmonia?

Não sei o que foi feito dos amores que não vivi
Paixões torrenciais não me inundaram
Nem houve ternura para irrigar meu árido coração
Nem sonhos que povoassem minha noites insones

O que foi feito das festas infantis de riso alegre
O mesmo riso que não ecoou em minha infância
Aquele que não faz aprte da memória dos meus dias?
Desejo todos os sonhos do mundo
E que neles caiba todo mundo

Desejo um dia alegre e festivo
Com sol brilhando sem nuvens por perto

Só não desejo a hipocrisia dos descontentes
Que disfarçam suas dores a cada carnaval

Desejo a fantasia, a magia de ser criança
Criar meus mundos de sonho e verão

Só não desejo o medo de nunca ser feliz
E ver mortos todos os meus sonhos

Desejo a doce chuva de verão
Que refresca a terra e inunda corações

Desejo sempre ter a quem amar
E todos os dias ser beijado com paixão

Só não desejo a solidão de uma casa vazia
Com seus ecos de alegria do passado
Desperta-me o sol na bela manhã
Com raios dourados e calor suave
Escondendo de mim a escuridão da noite
Despertando rosas adormecidas

Com sutil beleza aflora para o céu
Presenteando-me com um doce perfume
Com cores divinas forma um prisma
Produz em mim fantasias matinais

Toca minha face a gota do orvalho
Que banhou a rosa do meu jardim
Afago sereno que entorpece a alma
Inundando de gozo meu dia febril

Eu sei que durará sua alegria
Por tempo indeterminado ou mais um dia
Por longos anos melhor seria
Do que viver e amar sem maestria

domingo, agosto 26, 2007

Polegar Opositor

Afinal de contas, este sou eu
Humano, demasiado humano
Pó da terra, escória e ilusão
Sopro divino, clímax da criação

Não há argumento que me convença
De que em mim não há consciência
Pois se penso, reflito e me defino
Tenho certeza que existo

Em um simples dia perdi para sempre
A condição primitiva de minha inocência
A reflexão tornou-me uma aberração
No fim o sentimento precede a razão

Muito mais que um polegar opositor
Sou sentimento, razão e conflito interior