quinta-feira, março 22, 2007

Por sermos previsíveis nos atiramos ao mar
Um vôo rasante pelos trópicos gelados
Um mergulho profundo nas asas do abismo
Um mistério revelado em águas turvas

Por sermos inocentes nos perdemos no isolamento
Sem pecado nem perdão no olho do furacão
Das jóias roubadas apenas os rubis sobraram
Se foram para sempre as ruínas do horizonte

O sol sem tocar o chão revelou-se um vilão
Nas manchas roxas de um rosto sem expressão
As origens se forjam e contam sua história
Nas marcas deixadas em pedras marmóreas

As luzes alcançaram seu destino triunfal
Formaram sombras na parede como se fosse carnaval
De confetes e serpentina criaram um vendaval
Os subúrbios da angústia revelam o seu mal

Sem perder a consciência alcançar a genialidade
De uma rosa transformada em sequidão de estio
Nasceram pérolas mortas despedaçadas
Sem o aval da opulência do simples ancestral
Não resistimos à nossa falácia
Das mentiras que contamos nenhuma prevaleceu
Insustentáveis, difíceis de acreditar
Por suborno ou por vontade, para nada servem

Por loucura ou medo, paixão ou vício
Nos emaranhamos em discórdias deprimentes
Por vaidade ou perversão, insanidade ou depressão
Desatamos os nós da maldade que nos assola

Não são permitidas vitórias inglórias
Por corrupção será simples a desordem
De caos em caos se transforma retórica
Vazia, desafinada ou puramente inválida

Por vingança o atroz assassino
Num rompante de cólera rompe o fio da igualdade
Construída e conquistada sem amor
De remorsos exaurida em sua luz

Não seria sem sentido sentir demasiado
E em segredo lamentar o caos ordenado
Das dunas do deserto escondido e selado
No seio arfante de um herói decapitado

Por certeza de impunidade desonrosa
A vida se arrasta sem precisão
Destronando rotas que se colidem
Numa perfeita parede de ilusão

segunda-feira, março 19, 2007

Guarde o segredo e não se perca nos detalhes
Não tente complicar o que é simples na vida
Não se turbe com a pressão dos descompromissados
A despedida será sempre a melhor saída na chegada

De qualquer forma o que era voltará a ser novamente
E os segredos permanecerão imóveis em seus mistérios
Seduzindo e tragando quem os desconhece no fim
Como o sol que não sai apesar de ter nascido

O conta-gotas da virtude não se renderá à sua mão
Como o adeus que não é dito fica esquecido na multidão

A multidão dos temores que surpreendem o coração
E deixam vazios os sentidos da pobre razão

Não se deixe levar pela tristeza que nada traz
No final das contas o segredo da vida se manterá
E antes que tudo se acabe o melhor é recomeçar
Aguardando mistérios que nunca vão se revelar

Aderi à fantasia de viver sem minha sombra
Sem os lápis azuis que traçam minhas formas
Não deixando marcas e rastros no infinito
Infindo percurso traçado pelo absurdo

Entre montes e nuvens carregadas de som
Transbordam enchentes na mente ociosa
No ciclo das águas a vida morta é refeita
Com carbono, sangue e um mar de incertezas

Mensageiros dos sonhos sem forma e conteúdo
Distribuem a esmo imprevisíveis soluções
Como se fosse a certeza de uma saudade
A porta aberta que entrevê o horizonte

Esperei a hora certa sem acreditar no que ouvia
Trovões e estrondos de uma vida que se esvazia
Perdido sem sombra e memória esquecida
De um dia vivido sem hora vazia
Ainda prefiro o barulho do mar
Com seu eterno vai e vem sem cessar
De vagas cintilantes onde a lua não pode bailar
E espumas flutuantes que a mão não pode pegar

Ainda perfiro um minuto a mais para esperar
Do que desistir de ver a banda passar
Com flautas e tambores trazendo alegria ao lugar
Que crianças sozinhas não conseguem alegrar

Ainda prefiro a incerteza de esperar
Não permitindo nunca o desesperar
Mesmo que a vida encubra o luar
Mesmo assim escolho acreditar

Ainda prefiro todas as formas de amar
Mesmo vendo o ódio em tantas esferas imperar
Um tanto sem medida o coração vai se encantar
Com todo minuto incerto de barulho do mar

domingo, março 04, 2007

Se você quiser saber o que meu coração está dizendo
Olhe para o céu azul e lá encontrará a resposta
Uma estrela solitária teima em brilhar
Apesar das nuvens que tentam encobri-la

Não ouça a minha voz, ela não dirá nada
Nada que seus ouvidos possam compreender
Tente ouvi-la através dos olhos que choram

Se você quiser saber para onde eu irei
Siga os rastros que o vento apagou
Sinta a água do mar tocar seus pés
E descubra que ainda está muito longe

Não perceba a dor que estou sentindo
Nada disso será útil para a nossa geração
Ela não gera, absorve ou se importa

Se você quiser acompanhar as minha lutas
Lembre-se que nunca uso espadas nuas
E da mesma forma que o sol nunca cegou meus olhos
Nem sempre me perco em causas perdidas

Não desista das aventuras dessa vida
Tudo isso será útil para a próxima geração
Que virá nua, sem espada e esquecida