Não ouso gritarSe minha mão alcançarO ponto mais alto De qualquer lugarQuero estar seguroA salvo do escuroQue não quer me salvarDe nenhum apuroAceito o embateNão fujo ao combateDa glória infinitaDe quem prepara o abateMesmo que fosse possívelSentir a dor indizívelQue não se acaba no gritoDe um desespero terrívelO fim de um caminhoÉ o aconchego de um ninhoDe duas aves extintasPor falta de carinho
Seria tão simples como amarSe os erros não nos vendassem os olhosObscurecendo o laço que nos uniuPara sempre como o espinho e a rosaOu melancolia em dias de chuvaDas nuvens o sol brilha sem corEm gotas de neve e prisma incolorTortuoso, nebuloso e avassaladorLutando contra a luz inerteSonhando com a glória celesteDa alegria surgida no lesteSerena como gota de orvalhoGotas de amor ao pó terrestreSimples e só e leve e ferozGuardando no peito uma dor atrozDesespero sentido por todos nósMurmurando um uivo profundoA dor maior que o mundoQue dilacera tudo, elimina tudoLançando sem dó a última pá de calA raíz funesta de todo o mal
Ainda assim estou tranquiloMesmo que as noites sejam mal dormidasCom o ruído do trem inundando o quartoE o farol reluzente me cegando os olhosÉ só mais um que passa na noite friaCarregado de retalhos de vidas sujasCheirando a álcool e cigarro baratoNão importa a chuva que caiNem memso ela lava a almaDe quem abandonou tudoE parte em busca de ilusõesA solidão de um vagão escuroO balanço monótono causando enjôoE cidades fantasma pelo caminhoTudo isso se mistura à fomeÀ angústia e à incertezaNunca se sabe se o sol nasceráA noite é companheira eternaSer solitário é simples como sonharMesmo que o sonho nunca vire realidadeE cada estação prenuncie o caos
Ainda é tempo de se preservar o amorAntes que dele não se encontre lembrançaPara que o mundo se livre do terrorDo choro de tantas criançasÉ preciso preservar a inocência dos infantesÉ dessa pureza que nasce a felicidade na terraÉ inevitável que os sonhos acabem num instanteCom a realidade terrível da guerraÉ urgente que se construa uma fábrica de esperançaAntes que a vida se esgote pelos cantosUma linha de montagem que produza em massa sorrisos de criançaE se elimine de todos os rostos a dor e o espantoQue planeta deixaremos para nossos meninos?Que não seja um amontoado de lixo, esgoto e podridãoPara que eles não se lamentem por seus destinosE creiam que todo sonho não passa de pura ilusãoÉ preciso plantar jardins de girassóis e margaridasPara que as flores encantem a vida com suas coresE as lembranças da guerra se percam nas memórias sofridasE que nunca mais se sintam os efeitos de seus horrores
UM
Sou apenas um e todosNada de tudo o que existeUma hipocrisia, contradiçãoSangue Cólera IroniaO pesadelo dos sonhosA luz apagadaA escuridãoA loucura que a alma irradiaEm dias comuns e vaziosSou engano, mentira e trapaçaA beleza perdida, escondida e sem graçaFrio de invernoVento e nevascaA cura nociva de toda feridaA canção inacabadaHarmonia desafinadaAs lágrimas que mancham os olhosO soluço de uma voz sufocada
Sou humano, erro e enganoPuro medo, puro espantoImpuro de lábiosPor puro prazerDesencanto de viverAnomalia Terror AberraçãoOrgulho ferido e asa quebradaAsfalto rachado, poeira e estradaDeserto, esmola e mais nada
Ninguém se importa se não tem lógica
A razão nunca fez sentido algum
Hoje já não é mais um dia como ontem
As horas passaram e a ventania cessou
Não se importe mais com todos os segredos
Você nunca saberá a resposta exata
Há um remédio que cura o mal do dia
E dispersa todas as idéias no ar
Uma voz incandescente cala a luz do desespero
Um sol remanescente se curva à falsa lua
Como um cadafalso angustiante sem remorsos
E um raio de esperança que se extingue no horizonte
Duplamente suspensa a vida está
Como quem nada sabe e se dispõe a falar
Das histórias não contadas antes de dormir
Dos destinos fadados a não existir
Não queira o que todos querem sem saber porque
Mesmo que sejam duas horas da manhã
Ainda mais frio que o desterro na Sibéria
Ou a luta inglória dos anti-heróis
Mesmo assim tudo ainda vale a pena
Mesmo que sejam trovoadas em dia de sol