quinta-feira, maio 28, 2009

Este é o poema dos meninos mortos
Os estraçalhados sem piedade alguma
Escravizados pela liberdade sem medida
Viciados alucinados amordaçados

Estes versos são para os que jazem nas ruas
Os que vivem de migalhas e falsa caridade
Aqueles de quem desviamos os nossos olhos
E meneamos a cabeça como se fôssemos diferentes

Este é o cântico dos desvalidos
Os pequenos de quem roubamos a esperança
Os que se alimentam de sujeira e podridão
Os seres invisíveis de nossas cidades

Este é o lamento que não se ouve
Porque somos cegos e surdos e mudos
Porque vivemos de arrogância e estupidez
E nos conformamos com nossa mediocridade

Ainda há muito para se lamentar
E pouca é a vontade de se fazer algo
Importância alguma se dá a quem sofre
E que o crack consuma a todos

domingo, maio 10, 2009

SER URBANO

Sou um ser urbano
E nesse céu cinzento
Que é a origem do meu tormento
Encontro a felicidade

Nesse paraíso onde a fumaça reina
Não se ouve canto de pássaros
E há muito não existe verde
Aqui reside minha alegria

A música que me encanta
Sai do ronco dos motores
As bestas metálicas de quatro rodas
De vidros fechados para a realidade

Como tantos outros milhares
Vagando sozinhos na multidão
Experimento o poder da solidão
E a doce ternura do medo

Viver aqui em meio aos horrores
É meu encanto e meu prazer
Atrás das grades dos apartamentos
Encontro um precioso refúgio

Espero que aqui eu complete meus dias
Vivendo feliz e doente e inseguro
Vendo os humanos matando uns aos outros
E a ferrugem corroendo tudo lentamente

O que odeio é essa maldita esperança
Que se aninhou em meu coração
Insistindo para mim a cada dia
Que um mundo melhor é possível