Se a vida é bela como uma rosa
Onde estão meus jardins suspensos?
Não sei mais o que posso fazer
Além de sofrer e amar acima de tudo
Sem investidas da pura razão
Não se vencem as barreiras do coração
Hoje é só mais um dia de muitos que virão
Ou todos já passaram e eu não vi?
Não há futuro que se sustente
Se os fundamentos forem quebrados
Já que a sorte foi lançada
Não espere dias felizes
E se vierem, serão breves
Não será possível percebê-los
E se forem percebidos
Diga adeus a todos
Não serão seus um instante sequer
Arredios são a quem os quer bem
E num instante a vida se vai
Para os cães uivarem para lua
Ainda há de se derramar um bálsamo
Sobre cada ferida aberta pelo tempo
E mesmo que o luto persista
Haverá motivos para sorrir
As paredes aquecidas foram ao chão
Um espetáculo de terror como adeus
Para tanta dor não se encontra explicação
Apenas a esperança de que tudo não passe de um sonho
Com os olhos fechados é possível enxergar
O desespero de quem não teve tempo de morrer
E mesmo que se proponha uma caça às bruxas
A vida que foi ceifada num segundo não será esquecida
Abraços e lágrimas, acusações e denúncias
Os culpados são sempre os mesmos
Não têm escrúpulos a oferecer
Somente descaso e ofensivo deboche
Não importa quem errou
Se o pior já aconteceu
Só nos resta contemplar as lágrimas
Da solidão das viúvas e dos órfãos
Apagar a luz
Não é por acaso que tudo é desfeitoComo peças de um dominó se derrubamEu continuo de pé apesar de vocêSobre os montes se hasteiam bandeirasDos que se alegram com a guerraE rejeitam a pazTriunfando um triunfo salgadoCom gosto de sangue amordaçadoEnvolto em grito desesperadoÀ mesa se traçam os mapasDa destruição irracional da vidaE se morre por nada numa luta perdidaOnde estão os heróis que pregam a covardia?Abarrotam sepulturas sem nomeNão provocam o derramar de nenhuma lágrimaAs notícias dão a guerra por encerradaMas eles se sentam para programar outraPois é amor à guerra, não ódio aos inimigosE quem será que vai apagar a luzE presenciar o último suspiro?
Haveria um disfarce a ser sustentadoUma Máscara que não pode cairComo um segredo irrevelávelUma mentira que se sustentaSendo uma farsa apresentadaDe uma tradução mal feitaEncobre-se a verdade maltrapilhaEncarcerada em paradigmasNão se dispensa embustes ideológicosA falsidade acadêmica é como virtudeO que se imita, repete e espiaÉ a novidade consagrada do velhoNão há nada que esteja ocultoQue não venha a ser descobertoQuando a escuridão se rende à luzA verdade segue como serpente entocadaE mesmo que ainda se mintaNão se consegue alcançar o ventoPois a leviandade de toda falsidadeNão se sustenta no decorrer do tempo
Não é por acaso que tudo é desfeitoComo peças de um dominó se derrubamEu continuo de pé apesar de vocêE sobre os montes se hasteiam bandeirasDos que se alegram com a guerraE rejeitam a pazE se triunfa um triunfo salgadoCom gosto de sangue amordaçadoEnvolto num grito sufocadoSentado à mesa se traça os mapasDa destruição irracional da vidaE se morre por nada numa luta perdidaOnde estão os heróis da covardia?Abarrotam sepulturas sem nomeSem provocar o derramar de nenhuma lágrimaAs notícias dão a guerra por encerradaMas eles se sentam e programam outraNão por ódio ao inimigo, mas por amor à guerraE quem será que vai apagar a luzE presenciar o último suspiro?
A cada ano que passa
Em cada marca do tempo
Fica sempre a impressão
De que há muito o que se viver
São crises que se passam
Alegrias que se extravazam
E a inutilidade dos dias
Se faz presente a todo tempo
Não é somente uma farsa
Uma suspeita que não se confirma
E mesmo assim não se sacia a sede
Dos que anseiam por morrer
Nas palavras do velho sábio:
Vaidade de vaidade
Tudo é vaidade!
Perdidas em algum lugar do passado
Estão as fronteiras vencidas de todos nós
Sobrepostas às desilusões do dia-a-dia
Como um soneto incompleto e sem rima
Numa cidade onde nada muda, só as estações
A vilania de deixar-se apaixonar
Invade as noites frias de inverno
Gelando corações vulcânicos adormecidos
De uma estrofe só se constrói o poema da vida
Rimando desastres com o acaso das catástrofes
Mesmo quem passa incólume por todos os obstáculos
Sofre a dor de não sofrer mesmo que seja um pouco
Vaidade, eis que tudo se resume em vaidade
Dos minutos contados às horas desperdiçadas
Dos sonhos reais às utopias concretizadas
Tudo não passa de pura vaidade dos homens
Servir como um enfeite cadavérico em vida
Tal qual as flores no caixão do esquecimento
Eis a vida incubada, abortada e intumescida
E os cães continuam a ladrar para todos os carros
Não sei viver sem ver o solA iluminar meu rosto a cada manhãSecando o orvalho que escorre das floresTrazendo a vida que a noite escondeuNão sei viver sem ver a luaCom seus raios de prata a iluminar o céuEmbalando amores proibidosOcultando a vida e seus mistériosNão sei viver como qualquer um Preciso da força que move o mundoO meu mundo, não o dos outrosO amor é a força que me moveNão sei viver sem perceber meus defeitosNão vou me esconder atrás da máscara da ilusãoVivo a verdade que me sustentaResisto à mentira que me afronta todo dia
Por quatro motivos o dia se torna felizE por um apenas se todo o seu encantoSol, luar, pipa no céu, criança a sorrirFlor morta, pisada e lançada no chãoSaída das águas turvas do passadoToda candura esquecida endureceAs pétalas caem, as folhas ressecamE o beijo do veneno dá fim a JulietaMais um beijo, e dessa vez o do vampiroSuga a essência da vida de todos os amantesQue por amor ao ódio se lançam á guerraE por repulsa á paz não a abandonam jamaisPor um motivo apenas o sol nasce todo diaE por outros quatro a lua mostra sua faceNecessidade involuntária de fornecer amorPaixão de amantes, sono de sol, renovar Das flores e renascer da vida
Não desperte e mim sentimentos rebeldesSem querer eu posso te ferir por dentro E despedaçar seus lábios num beijo sem paixãoSem a doçura dos dias gelados de invernoMe aqueci na doce fonte da ternuraE esqueci de todo o resto que me iludiaSeria até um dia perfeito e sublimeSe não fosse a rebeldia recalcitranteArdilosa em todas a suas tramasO que seria de nós sem a doce magiaDe um dia sem nuvens e jardins floridosMesmo sem borboleta que a enfeitá-losMas no final de tudo, não esqueça os sentimentosMesmo os rebeldes, por que sem eles não se viveApenas se existe sem muito sentido
Onde estão os seus sonhos criança desnudaPela vida bandida que consome seus diasPelo frio terrível que te dilacera a facePela escassa comida que não te saciaVocê sabe o que são sonhos desamparada criança?Olhe para o céu e contemple o cinza sombrioMas não se desespere, ainda não é o fimO pior ainda está por virQue medos atormentam seu sonoMinha doce criança insone?Será a certeza da morteTão presente em sua vida ?Abra teus olhos e veja o futuroTão negro quanto a noite que te tortura Tão incerto quanto a liberdadeE mais violento que seus diasNão seja pessimista criança ingênuaÉ natural a vida ser ruimO que espanta são os momentos felizesQue não existem nem nos melhores sonhos
RECORDAÇÕES
Ainda me lembro muito bem
Era outono e as folhas caíam
Mas havia cheiro de fruta no ar
São doces lembranças
Que guardo da infância
Que ainda brotam em meu coração
Não são mais alegres os dias de hoje
O outono não se distingue mais
Das outras estações do ano
Impera um cheiro de fumaça no ar
Não há mais o doce aroma das frutas
Que de tanta química tornaram-se nocivas
Hoje não se produz mais lembrança
O passado é um pesadelo que se quer esquecer
E o futuro é envolto em medo
A infância já não é mais inocente
A pureza de seus olhos foi roubada
E não há mais quem a encontre
Meu coração já não bate com tanto vigor
Desiludiu-se com o tempo presente
E esqueceu todas as suas recordações