sexta-feira, outubro 27, 2006

Por onde andará minha flor do Oriente
De lábios azuis e doce amanhecer?
Seu paradeiro é uma incógnita para meus olhos
Cansados, marejados, turvos e pesados

Oriente meus passos linda flor do deserto
Guie-me através do seu perfume alaranjado
Desenterre minha ânsia por seu colo
Destile cores em meu ouvido

Num dilúvio tornaram-se as lágrimas
Que como orvalho corriam de mim
Aplacando a sede do deserto existencial
Regando flores que surgiram sem fim

Enfim das cinzas renasceu e se impôs
Como um tufão de pétalas e aromas
Num caleidoscópio de cores palatáveis
Reinando imponente sobre todos os ais
Trombas de águas raivosas caem sobre o céu
Espantando as estrelas ociosas em seu vagar
Diluindo galáxias em poeira espacial
Explodindo supernovas hilariantes

Azuis celestes enegrecem a lua
Carregando as nuvens do mais puro veneno
Que mata cometas e apaga o sol
Pescando asteróides que serpenteiam no ar

Os anéis não fazem alianças com seus planetas
Rebelando-se roubam seus satélites
Procuram exílio em buracos negros
Apagando sua memória para sempre

Oh noites glaciais de frio eterno
Seus ventos uivantes sussurram segredos
Promessas da lua e meteoros de amor
Nesse intenso inverno terrestre

segunda-feira, outubro 16, 2006

Intimamente ligada à sua é minh'alma
Como unido está o espinho à rosa
Imensurável candura agressiva
Que fere o peito enquanto exala seu perfume

Perpétuamente devotada à sua é minh'alma
Como encantado é o girassol
Sempre com a face voltada ao seu objeto de amor

Extasiada fica min'alma ao brilho do seu olhar
Como em êxtase rende-se a águia às alturas

Inebriada minh'alma está pela doçura de sua voz
Idílico som que flutua em mim
Despertando desejos ocultos
Revelando segredos inaudíveis

Insaciavelmente sedenta está minh'alma
Pelos beijos ardentes de seus lábios
Toque divinal de seda entorpecente
Quintessência do prazer

Incansavelmente clama minh'alma pela sua
Ansiando resposta de amor
Como areia anseia pelas ondas
Exalando espumas de gozo

sexta-feira, outubro 13, 2006

Como gotas de chuva num parabrisa
Que deslizam ao sabor do vento
Assim vagueia minha mente
Lembrando o que ficou no tempo
Na tortura de vícios insanos
Perpetuo prisões voluntárias
Serenos, calmos, alheios a tudo
Meus olhos se fitam no espelho
Por que não mudo meus temas?
Vãs repetições desiguais
Quase não vivo problemas
Sofro dores nada reais
No meu jardim de angústia
Plantei flores de saudade
No cemitério dos amores
Enterrei a lucidez que nada vale
O fluxo que vem de dentro
Tal qual o mar e sua violência
Desespera minha alegre alma
Atormentando-a com leve agonia

Olha o voto!!!

Olha o voto! Quem quer comprar meu voto? Vendo baratinho, não é preciso pagar muito não, qualquer coisinha serve: um saco de cimento pra construir meu barraco, um litro de leite pra matar a fome do meu bebê, um quilo de feijão pra alimentar minha família, um empreguinho de salário mínimo, nem que seja por pouco tempo, pode ser até um empreguinho de um dia pra entregar panfletinho, o que importa é entrar uma graninha.
Eu ainda consigo me estressar com política. Todo ano de eleição é a mesma coisa: é tapinha nas costas, é promessa que não será cumprida, é programa eleitoral, é tanta chateação que eu resolvi tomar uma decisão: voto nulo. Ainda creio que meu voto não fará diferença e que será eleito aquele candidato que a mídia quer que seja. O candidato não é obrigado a cumprir promessa de campanha quando eleito, ele promete o que quer e quem acredita, vota, não há necessidade de um compromisso com o eleitor, nas próximas eleições é só prometer de novo, e o círculo vai se repetindo.
Chamam-me de analfabeto político. Não me interesso por propostas partidárias, (afinal, elas nunca são postas em prática mesmo). Não tenho paciência para programa eleitoral, é tanta bobagem que não há cristão que agüente assisti-lo. São candidatos despreparados, oportunistas, ignorantes, sem instrução, incompetentes, de caráter questionável, enfim, uma babel de aberrações. O que dizer dos discursos inflamados então? Uma verborragia demagoga que dá vontade de jogar tomates e o que mais tiver na frente.
A minha revolta é mais por desencantamento do que por ignorância. Como eu gostaria de poder confiar nos políticos, acreditar em suas promessas, ter esperança de dias melhores, votar com alegria por cumprir meu papel cívico, me sentir um cidadão que colabora com sua parte no processo democrático do país. Só que os mensalões, cuecões, mensalinhos, fotos de dinheiro, dossiês, sanguessugas, são uma realidade me furta o prazer do sonho, me mostra que meu desejo não passa de utopia e que para ver a situação mudar seria necessário mudar a natureza humana, que é inerentemente corrompida e má.
Eu creio que essa mudança acontecerá, mas será numa esfera que nos é imarcescível no momento e que nossos olhos não viram, nossos ouvidos não ouviram e nem chegou ao nosso coração. E tão cedo não chegará.

O sono de Clarissa

Envolve-me em pensamentos teu sono
Serena tal criança ao colo da mãe
No silêncio da noite apenas teu ronronar
Oh, amada minha, quanto amor tenho por ti!

Teu profundo respirar desperta-me na noite
Que sonhos se passam em ti?
Estarei eu neles? Serei teu príncipe?
Oh, amada minha, quanto amor tenho por ti!

Raios de luar te tocam a face
Iluminada ficas ainda mais linda
Tu és o meu sonho tornado real
Oh, amada minha, quanto amor tenho por ti!

Quando despertares lembrarás teus sonhos?
Serei eu ainda teu príncipe?
Haverá ainda sonhos a viver?
Oh, amada minha, quanto amor tenho por ti!

Como dizer que te amo

Como posso dizer que te amo
Sem repetir o que já foi dito?
Ao olhar prá mim você verá
Que ao seu lado sou como criança
Um sorriso não disfarça a alegria
Toda vez que meus olhos encontram os seus
Sim, sou frágil, isso eu confesso

Como posso dizer que te amo
Se amor não se traduz em palavras?
Justo elas que tão sabiamente
Explicam o mundo e seus mistérios
Não são capazes de exprimir
Como um coração antes vazio e sem sentido
Agora inebria-se de gozo
E derrete-se ao som de sua voz

Sim, eu quero dizer que te amo
Não com elas, as palavras
Mas vivendo em você
Em seus sonhos
Em sua história
Em nossos filhos
Frutos do amor
Que de tão grande
Não cabe em mim

(Para Clarissa, com todo o meu amor)
Num último momento alucinante
Ouvi tua voz sussurar em meu ouvido
Um grito desesperado em busca de socorro
Numa agonia de partir o coração

Numa eterna fração de segundos
Pude sentir o amargo gosto do ódio
Lentamente me desfiz da dor
E amarguei a angústia de me sentir só

Quando percebi que você era eu
E que o mundo agonizava em nós
Implorei teu amor como quem implora pela vida
Recebi a solidão das tristes catedrais

O que devia ser feito não o foi
O que é certo não é agradável
Emoção sempre despreza a razão
Ama-se o desprezo, odia-se o amor
No lugar onde se escondem os sonhos
No profundo mar das ilusões
Brotou uma rosa sem espinhos
Com perfume de violetas

Suas pétalas macias balançam ao vento
Submissas se curvam beijando o chão
De forma indolente se pintam de verde
São frutos de si mesmas e de seus amores

Nas imagens que surgem em seus olhos
Está o desejo de ser flor sem cor
Nos devaneios alegres cria seu mundo ideal
De ser caule, folha, pétala e espinho

No jardim etéreo criado ao léu
Brilham estrelas de um azul céu
Por ser irreal não assume o papel
De quem é condenado e não réu

quarta-feira, outubro 11, 2006

Tempos idos, nostalgia
Lembranças nem sempre trazem alegria
Numa fração de segundos toda a vida
Repetida, revivida, deglutida

Frustações remoídas
Incompetências refletidas
Atitudes repensadas
Decisões retomadas

Sangue novo, novo ânimo
Novos sonhos, reânimo
Ousadia ou intrepidez
Vale tentar mais uma vez

O que passou não se repete
Não se evita quando acontece
Hoje é o começo, o último dia
Amanhã o futuro se inicia

terça-feira, outubro 10, 2006

E o mundo rodou
Com suas asas de neon
Avançou ao céu e sumiu
Deixou algumas penas
Como mera recordação
De um dia de vôo tranquilo
Sem asa quebrada
Ou céu cor de anil
Voa muito azul
Descubra outros mundos
Aos quais você não pertence
Que são cheios de um vazio igual
Igual a você ,mundo azul
Vamos rodar com você
Voltar ao ponto de partida
Cada vez que o sol nascer
E mais uma vez amar
Amar o orvalho e a noite
Amar a beleza e a candura
Desejar ser um só e todos
Descer do céu com uma estrela na mão
E semeá-la no terreno fértil do coração
Que é um amigo que não te deixa sozinho
Mesmo quando o céu está nublado
Beija a lua e a convida prá dançar
Dançar sob o reflexo do sol
Com suas pétalas douradas
Que cobrem a face corada
Transbordando alegria
Vivendo a felicidade
Esquecendo que já foi triste
E que o dia começou
Com olhos famintos eu te contemplo
Sinto tua distância como quem geme
Agonizo de desejo sem poder tocar-te
Me delicio apenas com teus encantos

Fuja de mim meu desejo
Esconda tua face oculta
Adormeça em jardins de sonho
Esqueça o objeto do seu amor

Porque és tão apaixonante
E me torturas com suas delícias?
Sou um pobre que necessita de ti
Sou o orgulhoso que te rejeita

Oh meu desejo inconsequente
Porque me envolve assim?
Desista de sua funesta missão
Libere-me da insanidade
Como um beijo dourado e azul
Colorindo minha luz apagada
Adocicando meus olhos cor de púrpura
Com o gosto do mais doce perfume
Assim são seus dedos a correrem no meu rosto
O suave toque que desperta calafrios
Produzindo febre dilacerante
Me faz adormecer...

Ao acordar sou como folha molhada
Regada pelo orvalho intermitente
Que com mansidão invade a noite
Inundando de gozo o meu sono
Triunfando sobre os pesadelos
Acalmando a insônia recalcitrante
Que me escurece em suas horas
Me fazendo estremecer...

Oh gotas de sol que me refrescam
Banhem meus dias com amor
Venham colorir meu leito de dor
Retirem a condenação imposta
Façam justiça por uma justa causa
Me livrem dasestrelas que caem
Iluminem ao meio dia atroz
me tragam o sorriso de volta...
Um som estridente ferindo o ouvido
Aguda espada na alma a penetrar
Distorções de harmonias sentimentais
Eliminando a sinfonia que se impunha

Como uma orquestra sem regente
Com violinos e tubas desafinados
Sem harpas alaúdes ou cítaras
Sem platéia a aplaudir

Não subirão os sons
Não se encantarão os enamorados
O furor não será abrandado
E a música não existirá

Onde estão as celos divinais?
Emudeceram os trompetes angelicais
E as flautas não emitem melodia
Vivificando a mais fina melancolia

Não vou mais acreditar nas ondas do mar
As mensagens que elas trazem não me consolam
Quero o canto que me faça ressuscitar
Que ilumine meu sono e me faça sonhar
Que não esconda do meu rosto a face da lua
Nem despreze minha luta que no ar flutua

Oh vagas escaldantes que me inundam
Derretam suas espumas esverdeadas
Consumam num átimo o que escreví na areia
Apaguem os vestígios de uma noite inteira
Destruam os muros da inocência impura
Curando as chagas aladas da tortura

Ondas agitadas pelos ventos da razão
Arrasadas pela própria alucinação
Derramam sentimentos inexplicáveis
Atormentam as ares da emoção
Sucumbindo à doce ilusão
De que as estrelas caem em vão

Mergulhar nas brumas desse sonho
Encontar a cidade perdida e nua
Abraçar as luzes sa manhã
Perder a razão e o sentido
Servir ao luxo do descanso
Alcançar o sol com a mão

segunda-feira, outubro 09, 2006

Não se nega aos olhos o prazer da beleza
Não se furta aos sentidos o sentido do belo
Olhos, mãos, lábios, olhares e toques
Tudo seduz e inebria, tudo apetece e aquece

Qualquer que seja a luz, irradia e ilumina
Qualquer que seja o desejo, o sonho o concede
Qualquer que seja a fantasia a alma se incendeia
Em gozo efêmero se derrete o coração

Emfim o que sobra é a ilusão da paixão
E seus enredos de choro e desilusão
Consumindo a vitalidade e o semblante

No fim não sobra nada e tudo é vastidão
De inglórias possibilidades e vãs argumentações
Injúrias descabidas e pura devassidão
Uma cidade em chamas foi tudo o que restou
Dos sonhos plantados nenhum se realizou
Das cores vivas o brilho se furtou
Em cinza opaco a vida se tornou

A alegria das crianças é uma arma nas mãos
A esperança do futuro é a morte voluntária
A fé alheia deve ser combatida
Em nome de Deus se aniquila a vida

O sol também se levanta prá quem não o admira
Uma nuvem de fumaça é o céu de muitos
A cura do mal é a morte do próximo
Em água podre se banha a vida
Ó pueril inocência que desaparece no ar
Conta-me onde perdeste teu caminho
Em que pedra tropeçaste o teu pé
E porque no chão ficaste prostrada

Embalsamados foram meus olhos
Proibidos que foram de apreciar-te
Envolvidos em negras incertezas
Desprovidos da luz do teu olhar

Porque abandonaste teus princípios
Deixando a pureza morrer?
Onde escondeste teus sonhos
Em que mundo te encontrarei?

Volta, volta inocência perdida
Dê-me o prazer de teu gracioso sorriso
Enleva-me em deleitosos segredos
Faça-me esquecer meus desejos

Achei-te inocência linda
No sorriso das flores imóveis
No canto dos pássaros tristes
No choro de quem em fome

sexta-feira, outubro 06, 2006

Sobremodo assustadora é a vida após a morte
Um mundo de incertezas a envolve e encobre
Não há quem a tenha experimentado e nos possa contar
Não há quem se disponha a morrer para vivê-la

Quanta fantasia desperta nas mentes dos viventes
Os mortos que jazem sepultados não se importam com ela
Os vivos em agonia esperam a sua chegada
Os mortos nada esperam, nada sofrem, nada querem

A vida futura é uma incógnita cruel e avassaladora
Nos faz esquecer o presente com seus desencantos
Aliena-nos da bruta realidade inconsequente
Nos submete a torturas de vãs expectativas

Ambas caminham juntas e inebriam igualmente
A vida após a morte e a morte após a vida
O sonho que se realiza e a utopia que move os sonhos
O futuro imprevisível e distante e o presente que se impõe arrogante

Aos dois me devoto e desprezo
Pouco me importa o fim a que levam
Me atormenta a incerteza de cada um
Mergulho suave em seus doces mistérios

quinta-feira, outubro 05, 2006

Hoje vou falar da alegria
Como se fosse fantasia
Da mais perfeita agonia
De uma noite sombria

Hoje eu recusei a tristeza
Vesti-me da mais pura leveza
Fiz da dor a minha riqueza
O sonho nunca será uma fraqueza

Hoje o dia será de euforia
Embriagado de anestesia
Dependendo de toda energia
Desestruturando toda a harmonia

Hoje tecerei loas `a beleza
Como se fosse um mundo de incerteza
Cobrindo a vida de toda torpeza
Destituindo a sua realeza

Se eu fosse triste não sei o que faria
Talvez da vida eu desistiria
O mais certo e’ que eu não me entregaria
Uma nova razão eu inventaria
Como um frêmito inesperado você surgiu
Assaz forte para que eu me contivesse
Insuficiente em sua verdade velada
Por demais néscio para se manter

Como tocha incandescente me feriu
Num calafrio intermitente e distante
Regurgitando meus sonhos antigos
Espantando os fantasmas da alma

No lago o cadáver da lua flutua
Em seu brilho fosco me convida `a morte
E você sorrindo e tremendo demente
Afunda-se no lodo da vaidade

Você consumiu meus amores
No meu jardim murcharam-se as flores
E no recôndito obscuro da alma
Desfaleceu minha noite altiva