sexta-feira, abril 27, 2007

Não se preocupe com meu silêncio
Ele diz menos do que você imagina
O mistério que se oculta em minha mente
É bem menos nocivo que a faísca do meu olhar

Será perda de tempo tentar advinhar meus instintos
O que se manifesta nem sempre corresponde aos fatos
Surpreendente será me descobrir ou revelar
Que os mistérios não passam de puras suposições

Nem sempre a força suprime a coragem inútil
De quem morre aos poucos ou por acaso
Não adianta pedir perdão pelo que não ofendeu
A dúvida é fingir que existe um porquê

Sobremodo excelente é a paz que chega tarde
Porque eu não quero ser aquilo que te aflige
Sem evitar a contradição de tudo o que se vive
As palavras não farão sentido sem um norte que as guie

Sem me importar com nada que me importa
Desfaço os caminhos que meus anos traçaram
Descalço eu caminho, sigo, enfrento e perdôo
Não volto atrás, não me imagino, e fim
O amor deveria ser reinventado
E deixar de ser como é hoje
Exigindo força de quem se propõe a amar
Esquecer a resistência dos que são amados

Ser incondicional é a essência do amor
Pobre essência que se evanesceu
Perdeu-se no limbo amargo dos interesses
Sucumbiu ao odor fétido do egoísmo

Onde poderei encontrar o caminho da perfeição?
No primeiro passo mais difícil de se dar
Início de jornada que fere os mortais
Desvelando o que se oculta em toda alma

Nos dias que se revelam inúteis
A força de amar enfraquece os sentidos
Redescobrindo a magia do querer bem
Renovando o temor de não persistir

No fim, como Fênix ressurge o amor
Tão puro e belo como era no início
Despido das nódoas rançosas do passado
Iluminando como o sol em um novo dia
Por extrema urgência de compaixão
Feri meus olhos sem piedade
Ceguei-me para tudo o que me vencia
Tateei pelas ruas em busca de solidão

Sem necessidade de me fazer ouvir
Calei minha voz desesperada e aflita
No calar expressei toda a minha gratidão
Emudeço para não ver meu mundo ruir

No desespero atroz por ser ouvido
Tornei surdo todo o meu viver
Na ausência dos sons fiz minha cama
Nem ondas de som me deixam aturdido

Se esperasse de alguém apenas um toque
Teria no tato todo o meu desejo
E como um sonho perfeito refaria a vida
Perdendo a alegria em estado de choque

Sem intenção de deixar os sentidos fluírem
Me escapou a sensação do infortúnio
Por deserto sublime troquei meu oásis
O mundo abstrato por eterna fuligem

O Palhaço De La Mancha

Eis o meu palhaço andante de alegria senil
Me assombra os olhos sua caricatura sutil
Com armas inúteis e engenhoso perfil
Capacete e lança, escudeiro servil

Eis o meu cavaleiro da triste figura
Num pangaré raquítico aventuras procura
Por uma donzela feiosa vive sua loucura
Libetando o mundo de uma falsa amargura

Eis o meu desditoso fidalgo
Que para sua loucura encontra respaldo
Em livros inchados de puro enfado

Eis o meu louco e lúcido desvairado
Que enfrenta perigos sem se dar por rogado
Achando que moinho é gigante armado

Eis o meu medroso valente
Despertando paixão na donzela inocente
Amor fingido que o coração não sente
Altisidora, donzela ferina e indecente

Eis a loucura transformada em sanidade
O leito de morte nos trouxe a saudade
Mas os valorosos feitos ficarão na eternidade
Com muito prazer me despeço de tudo
As costas dou ao que me trazia alegria
Perderam o valor que as imputava
Em pura vaidade transformaram meus dias

Talvez me chamem de néscio por não agir igual
A todos que se agarram a suas futilidades
Desprezando o bem se apegando ao mal
Trocando a essência por superficialidades

Não me apego a nada de tudo o que tenho
Pois à palha não se atribui nenhum valor
Um único vento espalha-se e já era
O que foi não é mais e se perdeu

O meu lugar embaixo do sol está garantido
Cada gota de chuva em meu rosto é bem-vinda
Motivo de gozo me será o perfume das flores
Em frenesi extasiante abraçarei o céu

O amanhecer será recebido como um dom
O luar um convite à alegria e à festa
Cada raio de sol como carícia materna
E os sons da natureza uma sinfonia festiva

Oh que doce paz invade sem ferir
Me receba em seus braços de mãe
Acaricie meu rosto e me faça dormir
Em seus braços seguro e feliz
Indecifráveis lágrimas irrompem das nuvens
Tocando o solo triste do seu rosto
Marcado pelos dias que passaram como vento
Levando o sorriso que tão lindo me encantava

Minha vida darei para trazê-lo de volta
Ver seu olhar brilhar outra vez
Espalhar as nuvens e ver sair o sol
Trazer à luz a alegria escondida

Tenha em mim um doce acalanto
Que zela por seu sono
Despertando os seus sonhos
Libertando seus amores
O mal que o homem faz ao próximo
Repercute em si próprio de forma medonha
Apodrece os ossos, definha a carne
Afoga em soluços a alma delirante

O mal que o homem faz à natureza
A faz chorar amargamente
Suas lágrimas destroem casas
Inundam vidas amortecidas

O mal que o homem faz a si mesmo
É como autofagia em transe
Despreza-se a dor mergulhando na escuridão
No abismo sem fim da tortura moral
Seu mundo de sonhos não alcançará o meu
Do infinito sou companheiro inseparável
Em seus abismos mergulhei e prevaleci
Por suas inconstâncias naveguei tranqüilo

Somente meus olhos compreendem o sol
Nunca dantes comtemplaram tanta beleza
Por imensurável que é senti-me abatido
Por uma ânsia tal que é impossível descrever

Nem mesmo a lua precipitou-se ao mar
Navegando serena em vagas nauseantes
Cruzando trópicos de baixa altitude
Transformou a candura em animosidade

Seus imensos olhos não verão a minha face
De todos esconderei meus sonhos raivosos
Esmagarei o infinito e transformá-lo-ei em pó
Até que não reste dele lembrança que me console
Procure um amor que seja bom pra você
Que não se importe com seus defeitos
Que te trate bem, sem fingimento
que se importe com seus sonhos

Procure um amor que não seja ciumento
Que te dê a liberdade de viver
De ser você, de sonhar, de escolher
Lembre-se que o amor só existe em liberdade

Procure um amor que seja verdadeiro
Que não se esconda atrás de máscaras
Que revele os próprios defeitos sem medo
E que não use a mentira como recurso

Procure um amor que não seja apaixonado
Pois a paixão é fogo, e fogo se apaga
Prefira a eternidade do amor verdadeiro
A efemeridade da paixão trás sofrimento

Por fim procure um amor que seja simples
Que veja a beleza das flores
Que se encante com o por do sol
Que aceite as lágrimas do arrependimento

Um amor que seja amor e só
Que seja fiel a você e a si mesmo
Que seja feliz e constante
E que não se importe em declarar-se

quinta-feira, abril 26, 2007

Poema não pode ser presente
E o passado já vai muito longe
Mas tão próximo que quase se pode tocá-lo
E até repudiá-lo se for preciso

Sempre haverá um caminho a ser trilhado
A sós, com Deus, com todos
Mas nunca ficar parado
Mesmo que não se queira ir a lugar nenhum

O amanhã só se revela ao amanhecer
E quando chega já passou
Tudo já passou e ainda há mais a passar
Que não passe sem ser percebido

O sol se põe para as noites de luar
Que sua beleza seja reverenciada
Como prenúncio de dias de amor
Que virão, que vêm, que irão

segunda-feira, abril 23, 2007

Se você sair daqui não me encontrarei jamais
Serei breve como veranico casual
Desses que se escondem do inverno
E negam o sol que dá vida às flores

Se você sair daqui e não me levar em seu olhar
Serei como um deserto no mar
Uma estrela sem luz
Uma vida morta no ar

Se você sair daqui e não deixar um resto seu
Meu brilho se irá como noite sem luar
Serei como um beija-flor sem flor
Ou girassol que gira sem sol

Se você sair daqui e não me deixar em seus sonhos
Serei como pássaro sem céu azul
Uma onda sem areia para beijar
Um rio sem mar para desaguar

Se você sair daqui não me recuperarei jamais
Serei um vaso quebrado sem flor a brotar
Um naufrágio à beira do mar
Um sorriso nublado de criança a chorar

segunda-feira, abril 16, 2007

Em todos os cantos em que o canto soou
Nasceu a beleza das flores silvestres
Em cores vivas e flutuantes canções
Ecoou no vale a voz das paixões

Em saudosas acácias o beija-flor descansa
Deliciando-se ao som dos perfumes
Nas asas da margarida a borboleta inerte
Saboreia a doçura das rosas astrais

Suga o doce mel a negligente lagarta
Que se arrasta indolente nas folhas celestes
Aguardando o casulo da metamorfose inevitável
O mundo ideal mais real que o imaginário

E no aflorar, a renovação da vida que se perdeu
Em vôos noturnos carregados de lembranças
Para nunca mais ser, nunca mais fingir
E seguir, sem cor, sem dor, por amor
Por mais um dia de rebeldia
Por um amor que não existia
Um momento a mais eu resistiria
Por toda a vida me arrependeria

E se um dia eu decidisse partir
Não me importaria com o que vestir
Pois ao vento nada pode resistir
Devorando o asfalto das estradas do porvir

Às certezas inconstantes me render
Seria tão fácil quanto me perder
Destruir o resto da vida sem perceber
Não há perigo que eu não possa correr

E mesmo que a vida um dia me tornasse melhor
Ainda assim não temeria dos males o menor
Uma frase distorcida conseguiria ser pior
Do que a mentira que consegue ser maior

E ainda que se perpetue a agonia
Não será surpresa se eu persistir
E teimar, e não abandonar o viver
Mesmo que morrer seja melhor

Inevitável o amor em sua desordem
Inventando novos horrores para os homens
Irrompendo com fúria em cada vida
Que se esfarrapa com luxúria e dor

Insuportáveis sussurros lamuriosos
Onde se escondem suas delícias?
Porque se derretem as suas entranhas
Flácidas, gélidas e amortecidas?

Não é que a vida se dobra em terrores
Esse é o terror de sentir-se sozinho
E amargar terríveis apelos
Por ar que se esvai em cores opacas

De instantes fecundos sobrevive o amor
Como se sobrasse um tempo qualquer
E uma palavra repetida sem perdão
E algozes minutos de solidão

Infinito, infinito, em finito ardor
Se consome o céu sem tempo e espaço
De uma cinza e puro pó avermelhado
E chão batido e terra pisada

Inesgotável o murmúrio do silêncio
Em velocidade reluzente espacial
Como noites ensolaradas de inverno
Ou sepulcros lacrados do mal

Machados e pedras e leve contenda
Rabiscos traçados em rochas lavradas
E velórios medrosos de noites insones
Numa cama num rio à beira do mar...
Se conseguisse apenas uma vez
Respirar o ar puro do universo
E lamentar a única partida
De um suspiro insuportável

Se lançasse os dados ao ar
A sorte não seria a mesma
Nem seriam dados os lances
À mesma sorte todos os dias

Se terminasse o dia em suspense
Sangraria até o último perfume
De uma rosa amaldiçoada
Por um beco sem saída

Se decidisse ser uma criança
Dançar ciranda em meio à guerra
Não seria fantasia de momento
Onde os dias passam lentos