O Cajueiro
Sou um simples cajueiroAviltado pelas dores da vidaCorroído em minhas entranhasPela impiedade do vil cupimSou um simples cajueiroAçoitado pelo vento noite e diaVergado pelas vicissitudesAmortecido pelos anos cruéisSou um simples cajueiroApodrecido e esquecidoEncharcado até a alma de dorÀ mercê das intempériesSou um simples cajueiroSem flores ou esperançaRelegado ao desprezo de todosAguardando a morte inevitávelSou um simples cajueiroSem crianças à minha sombraSolitário em um canto sombrioComo um aborto da naturezaSou um simples cajueiroA despeito de tudo meu dever foi cumpridoApresento o fruto que sacia a fomeAdoçando e alegrando a vida
É preciso abrir os braçosAbraçar a vida num segundoMergulhar, respirar bem fundoVoltar ao princípio de tudoÉ preciso seguir em frenteDesenvolver a pureza da menteEsquecer o passado, viver o presenteImaginar que tudo pode ser diferenteÉ preciso não desistir jamaisPensar que a vida pode ser sempre maisTer mais sentido e mais harmoniaSe encher de importância e alegriaÉ preciso vencer a maldadeAbrir os braços à felicidadeSer intenso e ser de verdadeDas as costas a qualquer falsidade
Somos um sopro nessa breve existência
Uma vaidade consumida pelo tempo
A negação de toda sentença
O julgamento final da humanidade
Somos a hipocrisia, a imundícia
Nós humanos, desumanos demais
Destruímos o fio de esperança
Produzimos o caos e a vingança
Somos o avesso da bondade
O abre-alas de toda desgraça
A porta aberta para a miséria
O lado sombrio da imperfeição
Somos a fria esterilidade
De olhos fechados para a verdade
A agonia de uma raça profana
A fúria hostil de uma ira insana
Somos hoje e nada mais seremos
A loucura senil e mal fingida
A tortura dos que ainda não são
A morte ferida e esquecida
Eu queria cantar uma cançãoQue falasse bem fundo ao seu coraçãoUma canção que fizesse festa em seu peitoE que lançasse para longe toda espécie de medoFazendo cessar a menor de todas as doresEu queria cantar uma cançãoQue transbordasse seu olhar de amoresQue transformasse sua tempestade em por-do-solE te fizesse contemplar cada estrela no céuUma canção que te fizesse se sentir única e especialUma simples canção onde eu pudesse declarar todo o meu amorEu queira fazer uma canção tão bela e singelaQue dissesse apenas o mais importanteQue é o que se revela no instanteEm que meu olhar encontra o seu
Poeta do Espaço
Sou um poeta do espaçoTerritório livre para a imaginaçãoUma região de absurdos concretosOu a periferia da confusãoDa natureza surgem meus devaneiosLá da lua estrelas e galáxiasDos rios pântanos e brejosDas cidades campos e metrópolesA paisagem de hoje não me encantaNão me encanta fumaça nos olhosNem arco-íris após chuva ácidaO calor nos aquece no doce invernoMas não derrete as geleiras de verãoE as folhas e flores ficaram sem estação