segunda-feira, setembro 29, 2008

O Cajueiro

Sou um simples cajueiro
Aviltado pelas dores da vida
Corroído em minhas entranhas
Pela impiedade do vil cupim

Sou um simples cajueiro
Açoitado pelo vento noite e dia
Vergado pelas vicissitudes
Amortecido pelos anos cruéis

Sou um simples cajueiro
Apodrecido e esquecido
Encharcado até a alma de dor
À mercê das intempéries

Sou um simples cajueiro
Sem flores ou esperança
Relegado ao desprezo de todos
Aguardando a morte inevitável

Sou um simples cajueiro
Sem crianças à minha sombra
Solitário em um canto sombrio
Como um aborto da natureza

Sou um simples cajueiro
A despeito de tudo meu dever foi cumprido
Apresento o fruto que sacia a fome
Adoçando e alegrando a vida
É preciso abrir os braços
Abraçar a vida num segundo
Mergulhar, respirar bem fundo
Voltar ao princípio de tudo

É preciso seguir em frente
Desenvolver a pureza da mente
Esquecer o passado, viver o presente
Imaginar que tudo pode ser diferente

É preciso não desistir jamais
Pensar que a vida pode ser sempre mais
Ter mais sentido e mais harmonia
Se encher de importância e alegria

É preciso vencer a maldade
Abrir os braços à felicidade
Ser intenso e ser de verdade
Das as costas a qualquer falsidade
Somos um sopro nessa breve existência
Uma vaidade consumida pelo tempo
A negação de toda sentença
O julgamento final da humanidade

Somos a hipocrisia, a imundícia
Nós humanos, desumanos demais
Destruímos o fio de esperança
Produzimos o caos e a vingança

Somos o avesso da bondade
O abre-alas de toda desgraça
A porta aberta para a miséria
O lado sombrio da imperfeição

Somos a fria esterilidade
De olhos fechados para a verdade
A agonia de uma raça profana
A fúria hostil de uma ira insana

Somos hoje e nada mais seremos
A loucura senil e mal fingida
A tortura dos que ainda não são
A morte ferida e esquecida

quarta-feira, setembro 24, 2008

Eu queria cantar uma canção
Que falasse bem fundo ao seu coração
Uma canção que fizesse festa em seu peito
E que lançasse para longe toda espécie de medo
Fazendo cessar a menor de todas as dores

Eu queria cantar uma canção
Que transbordasse seu olhar de amores
Que transformasse sua tempestade em por-do-sol
E te fizesse contemplar cada estrela no céu
Uma canção que te fizesse se sentir única e especial
Uma simples canção onde eu pudesse declarar todo o meu amor

Eu queira fazer uma canção tão bela e singela
Que dissesse apenas o mais importante
Que é o que se revela no instante
Em que meu olhar encontra o seu

Poeta do Espaço

Sou um poeta do espaço
Território livre para a imaginação
Uma região de absurdos concretos
Ou a periferia da confusão

Da natureza surgem meus devaneios
Lá da lua estrelas e galáxias
Dos rios pântanos e brejos
Das cidades campos e metrópoles

A paisagem de hoje não me encanta
Não me encanta fumaça nos olhos
Nem arco-íris após chuva ácida

O calor nos aquece no doce inverno
Mas não derrete as geleiras de verão
E as folhas e flores ficaram sem estação