segunda-feira, novembro 27, 2006

Esse é o meu retorno triunfal
Mas ainda não encontrei resposta
Que me sacie a sede infernal
Que por maldade me foi imposta

Em meu zelo consumi os parcos anos
Da vida que surgiu repelida
Por instintos de absurdos insanos
E por isso mal sentida e ressequida

À minha volta dispus armas
Que sobraram da luta sangrenta
Canhões, fuzis e espadas
Que à alma trouxeram tormenta

O que é isso que a tudo afronta?
Da ignorância de sábios mortais
Surge a revelação que não se conta
Dos mistérios das eras glaciais

Mesmo sem resposta esse ainda é um retorno
Da morte, da vida, da batalha, da derrota
Da volta ao mundo em reta e sem contorno
Do absurdo, da ignorância e da esperança morta
Como anseio por adquirir-te
Precioso conhecimento que é vida
Através de ti desvendar o mundo
Enriquecer do que não perece
Rejeitar a ignorância
Saber que nada sei
E o que sei é inútil

Onde poderei encontrar-te
Anseio de minh´alma?
Nos espaços angustiantes da mente
Em discos, estantes de bibliotecas
Em contos, romances, poesias mortas?
De ti quero encher-me como o mar
Que recebe o rio sem nunca se fartar
Que se estende por águas profundas
Tendo o horizonte como lar
Hoje o amor me encontrou
Com seus olhos dourados
Iluminou meu mundo
Solitário e triste
De perdidas ilusões
De corações partidos
E alegres melancolias

Hoje embarquei num sonho
De vida feliz
E sorriso farto
De viagens encantadas
Sem imagens desbotadas
De sol à meia noite
E luas descortinadas

Hoje despertei do sono
Que me prendia à escuridão
De sonhos ameaçados
Ou chuvas e trovoadas
Do medo da solidão
Da liberdade vigiada
Da vida angustiada

Hoje resolvi me despedir do luto
Que me aprisionou em lágrimas
Desaguando minha essência em ais
Esquecendo o que ficou para trás
Olhando à frente, seguindo a vida
Que não pára ou morre assim
Sem perceber que logo chegará ao fim

quarta-feira, novembro 22, 2006

Adormecer profundo nas asas da angústia
Sem perceber os perigos da imortalidade
Dos solitários algozes da alma se despedir
Penetrando no soturno mistério do sono

Que o sono do amor nunca é despertado
E suas angústias perduram infinitas
Infinda é a luz que enfraquece os olhos
Torturantes as trevas que o encobrem

Na silenciosa lucidez os aromas emudecem
Em loucuras de amores se perpetuam
Sua presença estremece em agonia
Seu calor dissipa toda neblina escura

Indecifrável como o vento do mar
Que vem e vai sem se revelar
Destruindo castelos de sol e luar
Guiando faróis imóveis na praia

Suas pedras não rolam ou constroem
Sonhos, castelos, pontes ou ruas
Numa funda se tornam uma arma letal
Dilacerando os olhos que contemplam o mal

Cordas se contorcem em doces harmonias
Despejando o desejo do turvo silêncio
Sua dor se disfarça em suave rancor
Dos dias do sono roubados do amor

quarta-feira, novembro 08, 2006

Esperei por tanto tempo encontrar uma razão
Um motivo que me desse explicação
Que me convencesse do contrário
Do que vejo escondido no peito
De quem desiste de viver
Não seria o desespero ou a esperança do porvir
Muito menos a alegria de morrer
Perder a essência da própria existência
Venerar o futuro incerto e inseguro

Nunca mais um dia a esperar
Respostas inconsistentes para problemas vãos
Soluções inadequadas para dores irreais
Sofrimentos que se inventam por fraqueza
Por culpa de intermináveis pesadelos
Trazendo insônia à noite perdida
Descendo ao túmulo da incompreensão
Que se estende até o céu encoberto
Nunca dantes visto ou contemplado

Não será jamais por tantas vezes
O que nasceu puro e morreu só
Dividindo o caminho da perdição
O esquecido dia que não raiou
Invadido pela noite escura e fria
Da solidão perversa e inútil
Abandonado pelo sono que conforta
Virando a vida pelo avesso
Perdendo a lucidez desfeita em trevas

segunda-feira, novembro 06, 2006

Quem vai tomar conta dos doentes?
Aqueles que sobreviverem às nossas guerras
Os que venceram mas se viram vencidos
Derrotados por sua estupidez assassina
Que os cega e os faz achar que são superiores

Não percebem que são lixo desprezível
Escória do mundo que acreditam reinar
Escremento que exala fétidos odores
Vergonha da nação que supõem defender
Desgosto do ventre que os trouxe à luz

Quem vai ganhar a medalha de honra?
O que fez da morte seu projeto de vida
O que destruiu sonhos e os pisoteou
Cuspindo no rosto dos que estavam caídos
Lançando aos vermes seus corpos inertes

Quem sabe um dia sua ira será punida
E a justiça desejada será alcançada
E tenham seus corpos esquartejados ao sol
Sentindo a dor que tanto provocaram
Apodrecendo a morte dos odiados
Que de sonhos a vida nunca se farte
Essenciais que são à manutenção da paz
Por serem irrealizáveis é que se sustentam
Pois a alma anseia o que não pode alcançar

Que de pão a boca nunca se enoje
Pois um dia ele há de faltar
Dizimando a vida que um dia existiu
E sonhou que eterno seria seu pão

E que aos maus o coração nunca se iguale
Posto que é bom o seu proceder
Se embale nos mais belos sonhos

Que habite o amor todos os lares
E o receio se dissipe no ar
Por utopia que se deseja alcançar
O caos será breve e eterno
Sua cicatriz perdurará
Trazendo a dor de volta à memória
Insistindo no leviano existir

Como um sonho que é demolido
Pelas agruras da vida real
Espalhando destroços ao vento
Trazendo o torpor infernal

Lutar contra a própria vontade
O castigo pelo mal praticado
Subordinar-se ao próprio desejo
Sentir na carne a dor letal

Sentir o cheiro amargo e azul
De luas nubladas de fel
Sucumbindo ao peso do sono
Num pesadelo atroz e cruel

Receber o sorriso maquiavélico
Do verdugo assassino e feroz
Que com prazer pressente o cheiro da morte
Torturando o infeliz de tão triste sorte

Escondendo seu lado sombrio
a lua se farta de maldade
Contempla a lágrima furtiva
Daquele que a merece
Guardei um último adeus emudecido
Aplacado por um suspiro apavorado
Perdido no tempo-espaço indolor
Ferido por dentro e esquecido

Fluindo em gotas como lágrimas
Encolhido e atordoado pela dor
Sem a tristeza de uma esperança
Adormece entre soluços vorazes

Lentamente recebe a morte aguardada
arfando suave sente a vida esvair-se
Aguarda somente a noite chegar
E o brilho do sol se apagar