Esse é o meu retorno triunfalMas ainda não encontrei respostaQue me sacie a sede infernalQue por maldade me foi impostaEm meu zelo consumi os parcos anosDa vida que surgiu repelidaPor instintos de absurdos insanosE por isso mal sentida e ressequidaÀ minha volta dispus armasQue sobraram da luta sangrentaCanhões, fuzis e espadasQue à alma trouxeram tormentaO que é isso que a tudo afronta?Da ignorância de sábios mortaisSurge a revelação que não se contaDos mistérios das eras glaciaisMesmo sem resposta esse ainda é um retornoDa morte, da vida, da batalha, da derrotaDa volta ao mundo em reta e sem contornoDo absurdo, da ignorância e da esperança morta
Como anseio por adquirir-tePrecioso conhecimento que é vidaAtravés de ti desvendar o mundoEnriquecer do que não pereceRejeitar a ignorânciaSaber que nada seiE o que sei é inútilOnde poderei encontrar-teAnseio de minh´alma?Nos espaços angustiantes da menteEm discos, estantes de bibliotecasEm contos, romances, poesias mortas?De ti quero encher-me como o marQue recebe o rio sem nunca se fartarQue se estende por águas profundasTendo o horizonte como lar
Hoje o amor me encontrouCom seus olhos dourados Iluminou meu mundoSolitário e tristeDe perdidas ilusõesDe corações partidosE alegres melancoliasHoje embarquei num sonhoDe vida felizE sorriso fartoDe viagens encantadasSem imagens desbotadasDe sol à meia noiteE luas descortinadasHoje despertei do sonoQue me prendia à escuridãoDe sonhos ameaçadosOu chuvas e trovoadasDo medo da solidãoDa liberdade vigiadaDa vida angustiadaHoje resolvi me despedir do lutoQue me aprisionou em lágrimasDesaguando minha essência em aisEsquecendo o que ficou para trásOlhando à frente, seguindo a vidaQue não pára ou morre assimSem perceber que logo chegará ao fim
Adormecer profundo nas asas da angústiaSem perceber os perigos da imortalidadeDos solitários algozes da alma se despedirPenetrando no soturno mistério do sonoQue o sono do amor nunca é despertadoE suas angústias perduram infinitasInfinda é a luz que enfraquece os olhosTorturantes as trevas que o encobremNa silenciosa lucidez os aromas emudecemEm loucuras de amores se perpetuamSua presença estremece em agoniaSeu calor dissipa toda neblina escuraIndecifrável como o vento do marQue vem e vai sem se revelarDestruindo castelos de sol e luarGuiando faróis imóveis na praiaSuas pedras não rolam ou constroemSonhos, castelos, pontes ou ruasNuma funda se tornam uma arma letalDilacerando os olhos que contemplam o malCordas se contorcem em doces harmoniasDespejando o desejo do turvo silêncioSua dor se disfarça em suave rancorDos dias do sono roubados do amor
Esperei por tanto tempo encontrar uma razão
Um motivo que me desse explicação
Que me convencesse do contrário
Do que vejo escondido no peito
De quem desiste de viver
Não seria o desespero ou a esperança do porvir
Muito menos a alegria de morrer
Perder a essência da própria existência
Venerar o futuro incerto e inseguro
Nunca mais um dia a esperar
Respostas inconsistentes para problemas vãos
Soluções inadequadas para dores irreais
Sofrimentos que se inventam por fraqueza
Por culpa de intermináveis pesadelos
Trazendo insônia à noite perdida
Descendo ao túmulo da incompreensão
Que se estende até o céu encoberto
Nunca dantes visto ou contemplado
Não será jamais por tantas vezes
O que nasceu puro e morreu só
Dividindo o caminho da perdição
O esquecido dia que não raiou
Invadido pela noite escura e fria
Da solidão perversa e inútil
Abandonado pelo sono que conforta
Virando a vida pelo avesso
Perdendo a lucidez desfeita em trevas
Quem vai tomar conta dos doentes?
Aqueles que sobreviverem às nossas guerras
Os que venceram mas se viram vencidos
Derrotados por sua estupidez assassina
Que os cega e os faz achar que são superiores
Não percebem que são lixo desprezível
Escória do mundo que acreditam reinar
Escremento que exala fétidos odores
Vergonha da nação que supõem defender
Desgosto do ventre que os trouxe à luz
Quem vai ganhar a medalha de honra?
O que fez da morte seu projeto de vida
O que destruiu sonhos e os pisoteou
Cuspindo no rosto dos que estavam caídos
Lançando aos vermes seus corpos inertes
Quem sabe um dia sua ira será punida
E a justiça desejada será alcançada
E tenham seus corpos esquartejados ao sol
Sentindo a dor que tanto provocaram
Apodrecendo a morte dos odiados
Que de sonhos a vida nunca se farteEssenciais que são à manutenção da pazPor serem irrealizáveis é que se sustentamPois a alma anseia o que não pode alcançarQue de pão a boca nunca se enojePois um dia ele há de faltarDizimando a vida que um dia existiuE sonhou que eterno seria seu pãoE que aos maus o coração nunca se igualePosto que é bom o seu procederSe embale nos mais belos sonhosQue habite o amor todos os laresE o receio se dissipe no arPor utopia que se deseja alcançar
O caos será breve e eternoSua cicatriz perduraráTrazendo a dor de volta à memóriaInsistindo no leviano existirComo um sonho que é demolidoPelas agruras da vida realEspalhando destroços ao ventoTrazendo o torpor infernalLutar contra a própria vontade O castigo pelo mal praticadoSubordinar-se ao próprio desejoSentir na carne a dor letalSentir o cheiro amargo e azulDe luas nubladas de felSucumbindo ao peso do sonoNum pesadelo atroz e cruelReceber o sorriso maquiavélicoDo verdugo assassino e ferozQue com prazer pressente o cheiro da morteTorturando o infeliz de tão triste sorteEscondendo seu lado sombrioa lua se farta de maldadeContempla a lágrima furtivaDaquele que a merece
Guardei um último adeus emudecido
Aplacado por um suspiro apavorado
Perdido no tempo-espaço indolor
Ferido por dentro e esquecido
Fluindo em gotas como lágrimas
Encolhido e atordoado pela dor
Sem a tristeza de uma esperança
Adormece entre soluços vorazes
Lentamente recebe a morte aguardada
arfando suave sente a vida esvair-se
Aguarda somente a noite chegar
E o brilho do sol se apagar