terça-feira, janeiro 29, 2008

Envolve-me um silêncio ensurdecedor
Esse caos sereno que é o nosso amor
Tal como ilha sem vista para o mar
Entristece a alegria de saber chorar

Por mais nobre que seja tal sentimento
Justifica-se assim meu plebeu sofrimento
Que se perde contemplando o infinito
Criando a história do seu próprio mito

A multidão que se perde exilada
Encontra a solidão desmascarada
Os sentidos explodem em sono profundo
Nessa doce insônia de sonho fecundo

Insondável nuvem perscrutadora
Tece teias de proteção destruidora
Sobre os lagos congelados do Saara
A saudade é ferida que não sara

Variar entre espaços invariáveis
No toque sereno dos intocáveis
E na pele ardente de frio desejo
Desfrutar o prazer de um indesejável beijo

A mudez da noite tortura o ouvido
Um louco frêmito produz o gemido
Enlouquecendo se conquista a lucidez
O amor se perde na noite mais uma vez
Frágil como lâmina de vidro
Indefesa como pétala ao vento
Fútil, vazia e de breves anos
Assim é a vida de todos os homens

Num instante a existência cessa
Como vela que com um sopro se apaga

De nada vale angustiar-se com o amanhã
Não há garantias de que ele vá existir
Se vier será tão incerto quanto o hoje
E não valerá um instante de descuido

Atinge o irmão, o amigo ou o total desconhecido
Todas as folhas caem com a chegada do outono

Nada gira em torno de nós
Nem mesmo as ciganas em seu eterno bailar
Essa é a mais triste constatação
Não somos o sistema solar da existência

Efemeridade
Essa é a tradução da vida

sexta-feira, janeiro 18, 2008

Que seja eu a rota de escape
Dos poemas exilados nas brumas do esquecimento
De todos os lampejos de genialidade

Que seja eu a boca do profeta
E profira bênçãos em forma de versos
Apaziguando corações aflitos

Que seja eu o verso e a rima
A poesia que encanta a vida
A mais bela de todas as melodias

Que seja eu um mundo de sonhos
A luz que ilumina os olhos
O sal que preserva o sabor da vida

Que seja eu de todos o menor
A manhã florida de sol
Com azul e nuvens de algodão

Que seja eu o refúgio e escudo
Para toda afronta à poesia
E a todos os versos que ainda não existem

Que seja eu o encanto do mar
A leve brisa e o doce luar
Um soneto um sonho um beijo de amor