Variações sobre o mesmo minuto
IEm apenas um minuto a vida aconteceO que era antes deixa de serSe desmata a florestaMilhões morrem de fomeA água escasseiaO ar se poluiOs milhares que nascemComeçam a morrerIIUm minuto é sempre relativoDura uma fração de segundoOu vira eternidadeIIIEm um minuto de pazA serenidade do caosO desejo mais antigoA razão de tantos aisA paixão arrebatadoraA desimportância do malA inutilidade da vidaA inevitabilidade da morte
Às vezes a vida dói de forma intensaMas ela ainda é o pouco que nos restaDe tudo o que sentimos ou esperamosNada nos sobra ao final de tudoNão há segredo que não seja reveladoNão há olhos que vivam para sempre nubladosMas há azuis que se perpetuam na escuridãoE ondas que arrebentam nas praias da solidãoÀs vezes a vida parece um tanto indefinidaComo a fumaça de um navio no horizonte distanteE são os passos distraídos em noite de neblinaQue conduzem os sonhos para terras longínquasOnde não há retorno para os dias desperdiçadosSe escondem soluços engolidos a secoE cada lágrima que teve a existência impedidaDesfruta da liberdade que um dia lhe foi negadaVãs são as horas para quem não existe no tempoInúteis os dias vividos, sofridos, perdidosEm busca de respostas, sentidos e motivosSomente o último dos fiéis sobreviverá
Um dia sem fimNão é sequer o começoDa mais bela históriaNunca antes contadaA carência da noitePrenuncia a morte Reverenciando a vidaEsquecendo o diaMas o fim de qualquer mundoÉ o mesmo sono profundoA ideia que nasceu primeiroUm outubro em pleno fevereiroA linha que se achava retaÉ como vento que nos deixa alertaCurvado à estrela que não surgiuNo crepúsculo de azul anilO amanhecer é suave e beloGotas de orvalho, frescor e brisaAqueles que acordam nada percebemOs que dormem são mais felizes
Há ainda um milagre para acontecerQue poucos terão o privilégio de contemplarMenos ainda os que conseguirão percebê-loSerá um milagre estrondoso e fantásticoComo nunca se viu na face da terraAbalando alicerces há anos consolidadosSerá um dia de explosões e trovoadasDe vagalhões e ventos impetuososCom tempestades de areia e raios luminososOs homens perderão a fé em si mesmosPara só assim reconhecer a sua estupidezE de uma vez por todas deixar de existirMais um tanto de tempo e tudo se consumiráDe todas as expectativas essa não será frustradaMas até lá, os dias correrão lentos
Se fosse um sonho não seria tão beloA ponto de esconder a lágrima do desprezoQue se manifestou num simples acenoDecretando que o adeus seria para sempreO sol nasce e se põe e a tristeza permaneceTão viva quanto a noite insone e perdidaEntremeada de soluços e espantosSem um tanto de descanso e pazAlta madrugada, nenhuma estrela no céuTodos os sons num silêncio ensurdecedorA irônica companhia da solidãoE a ausência dos lábios que hipinotizamO nunca não dura eternamente para quem amaSempre haverá uma luz que dissipa a escuridãoSempre haverá amanhecer e o retorno do solSempre haverá reencontros e perdão