quinta-feira, agosto 31, 2006

Não estou passivo, apenas observo
Uns se escravizam, vivendo a liberdade
A verdade de quem mente não é consistente
Enquanto bombas explodem a paz está na moda
A igualdade desejada deixa de lado os diferentes
Holofotes na libido e na religião de quem não crê em Deus

Não estou disperso, mas contemplativo
Medalhas prá quem fez o que deveria ser feito
A crise entre o ser e o ter foi instaurada
Tsunâmis nos lembram que a vida não é um comercial
Katrinas e Wilmas desvelam a negligência
Amazônia seca, natureza que se rebela
O que foi dito merece ser repetido
Só se colhe o que se planta e onde se planta
A ausência de profundidade não é superficial
Virtual é o saber e o saber não é essencial

Não estou parado, estou apreciando
A hipocrisia sendo hipócrita
O rei perdendo a coroa
A ética encoberta pela corrupção
O inegociável sendo negociado
O absoluto sendo relativizado
A inocência por uma lata de sardinha

Eu não vou me guardar prá quando o carnaval chegar

Eu e meus poemas que não me traduzem
Vagamos insones na noite infinda
Câmara de tortura é o quarto que se fecha
Numa vala indigente jaz a razão de tudo isso

Retalhos de imagens, passado repassado
Lembranças desprovidas de fundamento
A mente vai ao tempo não vivido
Ao amor não sofrido

Oh alter-ego Quixotesco
Que fazes aqui?
Ato heróico na escuridão
Fortalece-se por não ser aniquilado

Espaços inimagínáveis, lua da terra
Vagar, despertar, suar, rolar
Esclarecer a torpeza com a leveza
Ao som do silêncio dormir
Prá onde ele foi com seus sonhos impossíveis?
Navegar na constelação dos trópicos celestes
Tocando a abóbada terrestre com dedos vacilantes
E o vento, ah o vento que embala a lua
Tocava seus cabelos cor de púrpura

Prá onde ela foi com suas dúvidas e medos?
Aterrizou no altiplano coração trancado
Como albatrozes em pleno balet aéreo
E plumas envolvendo a escuridão

Agora sou eu e comigo as estrelas
Prá onde fomos nós?
Em seus anéis toquei meus lábios
Na algazarra dos meus pensamentos
Feri a flor que brotou no sol

E se apagou, e acabou, e renasceu, e floresceu
E derramou pétalas no mar
O som do beijo do sol nas águas
Fez meu amor acordar

O amor desperto não se conteve
Expandiu-se aos quatro ventos
E a rosa exalou seu perfume
Cobrindo a noite de luz

Aprofundou-se nas gélidas poesias mortas
Aqueceu meus versos reticentes
Contorci-me de prazer ante a voz
Que ressoava nas velas agitadas

Sou eu, eu sei, existo e sou eu
Sempre e sempre e nunca
Nunca mais serei eu mesmo
Por você, por mim, por todos
Ou por ninguém
Ninguém que é a vida exaurida, contorcida
Confundida com a morte que existe
Livrando-me da existência
Desviando o leme, quebrando o mastro
Soltando a âncora que afunda, afunda
A funda que guardou a pedra
Matou o gigante que dormia em seus devaneios
Retorcida sombra sem forma definida

De finita a vida evanesce
E sopra ao longe
O último suspiro
A última dor
E a cor da flor
Com pétalas enegrecidas, ressequidas, esquecidas
Sou eu.

terça-feira, agosto 29, 2006
















Não vou-me embora prá Passárgada
Nunca será o meu lugar
Mesmo com suas lindas praias
Nada me levará prá lá

Nova Birobidjan não é meu país
Suas leis não regem minha vida
Sou um homem só, mas ainda sou um exército
Não tenho bandeira que me defenda

Lá no Sul não está o meu destino
O Minuano não tocará o meu rosto
Não contemplarei suas serras de névoas
Nem sentirei seu doce frio de inverno

Vou-me embora e será prá qualquer lugar
Aquele que indica o caminho das pedras
Não importa como ou quando chegarei
Se o que lá me espera é tudo o que sonhei
Esperei por horas a fio
Sentindo o frio que fazia
A janela ficou acesa
Esperando você chegar

Esperei dias, meses e anos
Tolerando frio calor e nada
Nuna mais se apagou a janela
Ainda hoje te espero chegar

Não me fio mais na espera
Esqueci o frio e o calor
Fechei as cortinas da janela
Não espero mais você chegar

segunda-feira, agosto 21, 2006

Dom Quixote II

Vi muitos mundos neste mundo
Absurdos reais, paradoxos abissais
Vidas mortas na escassez
Insatisfação em quem tudo tem

Vida, sobrevida, subvida
Lutas, sangue e lágrimas
Armas, corpos, domínio, escravidão
Riqueza produzida pela pobreza

Indignação, inconformismo
Sublevação, revolta, rebelião
Retaliação, humilhação, destruição

Ainda assim, o riso
Esperança na desesperança
Alegria que suplanta o medo
Desafiando a incerteza

Vida recalcitrante que teima em existir
Em ser
Em viver
Em acreditar
Mesmo que seja em causas perdidas
Eis que chega suave e leve
Perturbadora em sua sutileza
Não és feia como pensava
Há ainda uma pálida beleza
Quanto tempo te esperei
Sonhei com tua chegada
Dos homens tens a repulsa
De mim a veneração
Nasci para te desfrutar
Em teus braços me enlaço
És inevitável, não te posso resistir
Por vezes quis tua distância
Apavorava-me tua existência
Mas como imã me atraías
Hoje estás ao meu lado
Meu leito, meu último lar
Tua companhia vem minha vida furtar
Com avidez sugas meu último suspiro
E ainda ouves o derradeiro sussuro:
Seja bem-vinda, morte.
Todo espelho esconde um mundo
Sobremodo mirabolante e fantástico
Novas faces escondidas
Novos sonhos desmentidos

Todo mundo é um espelho
Refletindo as dores alheias
Mentindo sonhos reais
Escondendo a tristeza normal

Todo esconderijo é um mundo
Com absurdos e medos sem fim
Entristecendo alheias vidas
Realizando mentiras escondidas

Toda mentira é absurda
Fantástico esconderijo da verdade
Sonhando realidades perdidas
Vivendo o triste fim
Por onde anda sua aurora sepulcral
Taciturna névoa a encobrir o horizonte
Que se confunde com o céu

Dos seus olhos lacrimosos brota a fúria
Um mar revolto de paixões sazonais
Com a volúpia de um devorador se entrega

Súplicas exalam de suas entranhas trêmulas
Sorve o fel do prazer como o sedento à água
Embebeda-se com o vinho da amargura

O ódio entorpecente inebria o ar
Respirar torna-se torturante
Fechar os olhos é a solução

Oh sufocante uivo que não grita
Ensurdecedora voz que não cala
Você é a alegre dor que machuca a alma!
À riqueza dá-se o luxo da vaidade
À pobreza o desespero da necessidade
Em ambas é patente a carência
Não do que é material e perece
Não do que é roubado ou enferruja
Não do que é deixado na terra
Mas do que permanece e não fenece
Do que é do alto e não daqui
Do que sustenta a alma e não a deixa perecer
Do que alegra o coração e não é vinho
Do que é luz e dissipa as trevas

A riqueza é soberba, a pobreza complexada
Às duas falta humildade
De reconhecer o seu lugar
Que não importa ter, mas ser
Ser o que se é sem máscaras
Sem se esconder de quem tudo vê
Não outorgando a si o que não é seu
Não enxergando o próprio ventre (apenas)
Não desprezando o outro por sua condição

A riqueza não deve fiar-se em si própria
A pobreza não deve ficar na incerteza
Às duas cabe a vida e seus males
Desafios, sonhos e conquista

sexta-feira, agosto 18, 2006

Um porquê, um vazio repleto de dúvidas
Formas nas nuvens que se dissipam
Vagueiam sonhos em murmúreos sons
Sussurros quebrando o silêncio da alma
A noite me abraça com sua doce negritude
Orvalho que banha o rosto pálido e distante
Sombras avolumam-se como torrentes
Criaturas da noite retornam à vida
Com suas lástimas e desesperos
E eu, só, te contemplo ó lua fiel
Que me banha com tua luz noite após noite
Acariciando meu rosto triste qual donzela ao seu amado
E eu me entrego ao teu toque
Desprezando a vida lamuriosa que me circunda
Teu lado negro, mistério eterno que me encanta
Produz em minha mente os mais prodigiosos enredos
A brisa suave que me refresca o corpo
Me leva ao reino de Morfeu fazendo-me seu súdito
E ao chegar no idílico lugar, habitação tua
Desfaleço em teus braços macios
Não é maldade ou alucinação
É somente o dia que passa sem nenhuma explicação
Não é o medo da morte nem o anseio pela vida
Não importa a dor sofrida
Quem sobreviverá não será o mais forte
Desertos escaldantes geram desertores
Escassez não é de coragem ou água
O soldado se desespera e esquece a sede
Não sou dado ao desespero
No mar lanço apenas as redes
Se foi só não o sabe o pó
O que sobreviveu
Abandonou a vida e morreu

E viva as crianças!!!

Oh crianças sem Brasil e sem futuro
Onde está sua esperança?
Nos sinais, avenidas, nas favelas?
Mortas em vida, escravas da fome

Viva o Criança-Esperança, viva!
Viva o Tele-Tom, viva!
Viva a criança inocente
Que brinca com uma UZI na mão

Oh Deus, perdoai nossa alienação
Livrai-nos da solidariedade de improviso
Tenho compaixão do nosso seco coração

Onde está o amor que todos pregam
Qual a razão de tudo isso
Da morte estampada nos jornais?

Oh crianças, levantem um clamor pela paz
Esqueçam a fome, as drogas, a tristeza
Mostrem suas lágrimas ocultas aos nossos olhos
Implorem de joelhos e à uma voz

Oh criança suja e maltrapilha
Seus irmãos ainda choram e esperam
Um Brasil repleto de alegria
E um futuro que caiba no seu sonho

segunda-feira, agosto 14, 2006

Desperte do sono minha linda criança
Vê, o sol já raiou e te toca o rosto
Sinta o calor envolvendo teu corpo
Perceba nas flores o renascer da esperança

Alegre-se, é mais um dia de sonho
Que tua alma infantil tenha gozo
Na mais linda fantasia
Que o canto dos pássaros
Te embale em doces melodias

Brinque minha linda criança
Pois teu tempo é de brincar
Entre as flores cante e dançe
Não chegou o momento de amar

Entrega-te ao sono minha doce criança
Teu dia enfim terminou
Com ele se foram os sonhos
Em teu coração tudo vivo ficou
Minha luta acabou, vencido não fui
Tampouco alcancei a vitória
Mas perdi, perdi a noite, o sono
Perdi a doce sinfonia dos pardais
O desabrochar da linda rosa
O despertar de uma criança
Perdi meu mundo, minhas cores
E conservei as dores
Através das horas espalho o meu pranto
Contemplo o raiar do dia
Mas perco a aurora
Trancadas estão as portas
Cerradas todas as janelas
Abertas as comportas lacrimais
No espelho a caricatura de alguém
Que eu não conheço mais
Um corpo estendido sem esperança
Esperando a brisa do dia
E o mover das cortinas
Sonhando com o arco da promessa
Que hoje jaz descolorido e sem pote de ouro
Nem pedras nas rochas
Não olhe em volta
Nada será encontrado
Tudo desabou num ato só
O equilíbrio se foi

Não há como voltar
O passado não se permite mudar
Tudo aconteceu por escolha sua
Chorar já não adianta

O erro acertou o alvo
Instaurada foi a rebeldia
Mutilado o coração
Anunciado o fim

O sonho está acabado
Despertado que foi pela realidade
Surgirão mares de acusações
E culpados não haverá mais
Se por um instante a vida parasse
E você viesse ao meu encontro
Desprovida de armaduras, a mente nua
Não seria em vão

A vida passa em frenesi relapsa
Não deixa que passe à mente o disfarce
Da alma sofrida, de amor ressequida
Da morte escondida

Entre sons sufocados e gestos contidos
Esconde-se o fel do amor distorcido
De nada se fala e por nada se vive
Mas em vida persiste

Apagando a luz, ascendo à dor
Impossível é despertar do torpor
Da mente nua, da vida parada
A morte persiste em vão
Quando descobriram que o não era sim
E o repúdio não passava de desejo
Fugiram de si mesmos rumo ao nada

Separados estão por uma muralha de orgulho
Enlouquecidos por uma paixão retraída
Torturam-se e sofrem por não terem coragem
De entregar-se esquecendo o passado

O tempo passa, mais aumenta o amor
Escondem-se atrás de uma máscara de ferro
Enlouquecem com lembranças do passado
As juras de amor não cumpridas

Hoje jazem em seus mundos
Torturados pelo ódio
O coração cerrado
Criaturas secas

Enquanto o amor existir
O sofrimento não cessará
Pois este mesmo amor
Nasceu para ser imortal
E morreu antes de viver

O nada

Nada
Nada a dizer
Ou a ouvir
Muito menos a viver
Contemplo o nada
Mas nada me contempla
Nada me completa
Tudo me atrai
Nada se desfaz
Nada anda atrás
De sua tradução
Folhas mortas caindo
A primavera nasce lentamente
Canto de pássaros nas árvores
Nada plantam, nada colhem
Alimento não lhes falta
Como é bela a vida florida
Como são vivas as cores no ar
Orquídeas, rosas, margaridas
Caleidoscópio e prisma de amor
Verde, verde-mar, verde-água
E luz, e brilho, e sol, e rubro entardecer
É hora de despertar do frio inverno
Aquecer corações com paixões
Banhar-se na cristalina água da fonte
Enviar risos e beijos para o céu
Contemplar o luar dos amantes enamorados
Arrancar suspiros do solitário
Embriagar-se de alegria e paz
Esse é o paradoxo inevitável
A morte das folhas é prenúncio de vida

sexta-feira, agosto 11, 2006

Como anseio pela tranquilidade dos velhos da praça
Sua vidas já passaram mas ainda insistem em vivê-las
Contemplando a vitalidade da juventude que os despreza
Aguardando o momento do descanço final

Que destino espera os velhos da praça
Com suas peças de dama e jogadas calculadas
Em suas calvas suadas marcadas pelo tempo
Esconde-se a sabedoria adubada pelos anos

Que alegria desfrutam os velhos da praça
Barbas brancas e ralas, vistas fracas e opacas
Sonhos realizados, muitos tantos frustrados
Filhos, netos, bisnetos e o quê mais?

Quem sabe um dia serei como os velhos da praça
As costas curvadas, palavras cruzadas
Discussões acaloradas sobre política, futebol
Minha velha em casa e eu sentado na praça
Divagar ao sabor do vento
Balançando sobre as nuvens
Sentindo calafrios lancinantes
Esperando a morte chegar

A morte atrasa sua hora
A vida reina em sua plenitude
Jacta-se de sua soberania
Aguardando seu tempo acabar

De vagar ao sabor do vento
As nuvens perdem suas formas
Fascinantes, provocam calafrios
Esquecem-se que a morte chegará

Atrás de sua hora anda a morte
Perseguindo a vida destronada
Ensoberbecida e soberana
Esquecendo do tempo que acaba
Lamentos não me torturam mais
Libertei-me da prisão avassaladora
Lutei contra a tristeza que se impunha
Livrei minh´alma da solidão

Nunca mais chorar, não, nunca mais
Não se ouvirão gemidos jamais
Nefastos sonhos que me impediam o sono
Nem sombras deles restou

Serei o que jamais fui
Sempre sendo o que já era
Superando o eu inexistente
Surgindo novo e liberto

Terminada não foi minha história
Tudo resumiu-se em vida
Tendo a morte por expectativa
Toda envolvida e vitória

quinta-feira, agosto 10, 2006

Sóbrios Devaneios

Ainda em tempo deixei a loucura
Sua lucidez torturava-me e seduzia
Seus sóbrios devaneios traziam-me à realidade
Inebriado rendia-me a seus pés

Entediavam-me suas vozes roucas
Seus brilhos e pontos bailando no ar
Fez de mim Napoleões e astronautas
O que sou fugiu de mim

Irritante e louca dor, mas que dor?
Sufocado estou, há excesso de ar
E minhas não são meus pés
O mundo ainda há de virar

E se parar, em que ares voará?
Não, deixei a loucura e o tempo
Há tempo de enlouquecer o tempo
Mas não será esse meu intento

A flor de lótus irá pairar
Com suas pétalas arroxeadas
Subirá ao infinito e se dispersará
E eu, insensato, dormirei
Sofre dores quem se apaixona
Enegrece o olhar como quem desfalece
Suspira ais de alienação
Trás sobre si a guerra que não acaba
Invade sonhos alheios à sua vontade
Desperta a ira em quem contempla o sol
Lança na obscuridade a ilusão da paz
Reserva a si a indolência selvagem
Pune severamente quem se opõe à leviandade
Olha à volta e nada encontra de seu
Curva-se à morte em reverência serviçal
Ilude-se com a realidade irreal
Abstrai-se à objetividade emotiva
Despreza a objetividade racional
Impregna-se com o fel do prazer não gozado
Rejeita o sono profundo e restaurador
Insone, vagueia na noite escura da alma
Até render-se por completo
E em agonia dar o último suspiro
Ainda resta uma luz que não se escasseia
Subsiste recalcitrante ante a sombra que a invade
Invoca do âmago do seu ser a força da vida
E resiste, persiste, insiste

Não é em vão, sua essência permanece
Como remanescente do que foi aniquilado
Insurge contra a morte que a persegue
E reserva a si a autonomia da existência

Vitória conquistada a sangue e lágrima
Despojado foi o inimigo abominável
Sua fraqueza revestiu-se da força inviolável
O brado triunfante fez-se ouvir no ar:
HAJA LUZ!
O que me envolve, isso me assombra
Seu último beijo não tocou meus lábios
O derradeiro abraço não me envolveu
Um adeus não pronunciado
Decreta o fim de tudo

O verde-mar dos seus olhos que me fitavam
Envolviam-me em sonhos, devaneios e ilusões
As mãos acariciadoras furtaram-se
À última carícia
O leve toque de seda recuou...

O som, ah som de suas palavras
Emudecia as minhas e ressonava em meu ser
Um novo mundo revela-se ante seus beijos
Nada, nada mais importava
A não ser você
Seus olhos
Seus lábios
Seu toque
Seu corpo....

De tudo, nada restou
O começo sem fim terminou
O adeus não foi dado
Mas decretado está

Carta de Adeus

O que me envolve, isso me assombra
Seu último beijo não tocou meus lábios
O derradeiro abraço não me envolveu
Um adeus não pronunciado
Decreta o fim de tudo

O verde-mar dos seus olhos que me fitavam
Envolviam-me em sonhos, devaneios e ilusões
As mãos acariciadoras furtaram-se
À última carícia
O leve toque de seda recuou...

O som, ah som de suas palavras
Emudecia as minhas e ressonava em meu ser
Um novo mundo revela-se ante seus beijos
Nada, nada mais importava
A não ser você
Seus olhos
Seus lábios
Seu toque
Seu corpo....

De tudo, nada restou
O começo sem fim terminou
O adeus não foi dado
Mas decretado está
Insondáveis brumas dom entardecer
Que penetram o dia levando seu fulgor
Limpando o ranço podre das desilusões
Apaziguando feras imortais
Supondo serem únicas e sós
Luz! Prá onde foi a luz que jactanciosa
Outorgava a si a soberania?
Anoiteceu e anoitecerá sempre
A sombra sumirá envolvida na escuridão
Lutará para sobreviver e desfalecerá
Divagará como ébria procurando o luar
Esconder-se-á mas não se salvará
Apodrecerá corroída pelos vermes da insensatez
Esperança que se desespera ao ver-se coberta de pó
Sumiu o entardecer varonil do dia
Assumiu a forma de noite infinda
Disfarçando o sol em lua negra
Ouvindo os uivos daqueles que choram
Pela falta de sua luz
E os mesmos são o que não eram antes
Deixando de ser a si mesmos
Para serem outros que não desejam
Espreitando pelos cantos da noite
Que irradia e esconde-se do dia
Que finalmente decide raiar
Enquanto me encanto com a suavidade das rosas
Esqueço-me da dor que me causam seus espinhos
Sentidos que se confundem, sinestesia despercebida
Descompromissado luto por quem não morreu
E perdido está em seus arredores matinais
Nunca é hoje prá sempre e a tarde já se foi
As rosas indolentemente continuam a ferir
E sorrindo espalham seu perfume no ar

Desabroche amor, como o botão que um dia será rosa
Será intenso, consistente, permanente, finalmente
No fim do dia o sol dará seu adeus
Convidando as estrelas para uma dança ao luar
Não será breve, por um instante resistirá
Prevalecendo contra a tempestade errante
Misteriosas curvas que serpenteiam sem fim
O fim próximo está, mas ainda não chegou sua hora
Que os ponteiros se levantem e em agonia sigam seu caminho

Destituída de seus encantos adormece a rosa
Suavemente despede-se da vida vivida e só
Pergunto ao pó qual o seu destino
E ela estremece, e cai, e se rende
Do perfume, somente a lembrança
Findou-se.
Eis o último suspiro
Da alma sequiosa de versos
De poesia que enleva e comprime
O peito carregado de amor

Suspira alma minha!
Seus sonhos se realizam num poema
Poema que chora a dor não sentida

Raiou.
O sol da minha alma
Raiou no horizonte distante
Iluminando a poesia
Que em versos se contorce

Alegra-te minh´alma
Regozija-te nas rimas
Livres, inexistentes, permanentes

Evanesceu.
No etéreo mar da incerteza
A pobre dissonância versada
Ao encontro do infinito partiu
Deixando versos, rimas e poemas

quarta-feira, agosto 09, 2006

Um buraco negro no sol
Disparos ecoam no ar
Gritos emudecem o silêncio
Choro, explosões, desespero
Rajadas, clarões rompendo a noite
Matem! Deus está mandando!
Deus, mas que Deus?
O deus-homem, o deus-ventre
Destruição, caos, desesperança
A estupidez humana assume o comando
Que bandeira se defende?
A da intolerância, do desamor
Suspirem, desfaleçam, inocentes
Generais não gerarão a paz
No céu não brilha mais o sol
As estrelas são projéteis assassinos
Bombas são mensageiras da dor
Quem vencerá já não importa
Importa o que se perdeu
O que não se repõe
O que não se refaz
O que já morreu.
Há uma frase a ser dita
E a boca silencia
O que mais dizer
Se averdade não importa
O grito ouvido esvai-se na vacuidade
Aprofundar-se na superficialidade
Foi a tola escolha
Quando não se tinha mais opção
Lutar contra o desespero
De-se-esperar
A voz calada, sufocada em sem som
O que gera dor não pode ser amor
E o amor não pode ser um ardor
Não adianta disfarçar
O que se sente é patente
Latente é a alma que mente.
Minha louca lucidez
Permite-me viver
Lúcidas loucuras
Trágicas, sempre trágicas
Separações...
No luar, a luz
A sombra que fica
Não somos mais
dois...
Erro ou acerto
Quem saberá?
Minha vida, sua vida
Nós nunca existiu
A liberdade nos aprisionou
À solidão
O ciúme, a força motriz
"Quem era ela?"
E ela não existe...
Quanto tempo durou
O amor, o ciúme, o desprezo?
Não há culpa
Mas quem foi o culpado?
É óbvio
A ausência do essencial

segunda-feira, agosto 07, 2006

You made me fly
to know the sky
We dont see at the earth

You made me shine
Like de stars in their full strength
A supernova was born in my heart
When your eyes crossed out my soul

What happens on my mind?
You´re by my side
And nothing else matters

Who are you?
Who am i with you?
Who am i without you?

Shine, shine on me
Take me above the sky
Cross me through the planets of myself

Where are you?
Are you in me?
Am i in you?

I guess we are one...
O solitário não ama a solidão
Quando ela é sua única companhia
Voluntária é necessária ao auto conhecimento
Arbitrária é faca que penetra a alma

O sonho só alegra o sonhador
Quando se torna realidade
Deixando de realizar-se
Torna-se ilusão

A alegria só tem razão de ser
Quando vivida ao lado de quem se ama
Solitária, não passa de tristeza disfarçada
Só existe na imaginação

Na busca da identidade do ser
O homem perde seu caminho
Solitário, sonha com o que não se realiza
Alegra-se disfarçando a dor

domingo, agosto 06, 2006

Linda flor que brota serena
Encontre em mim um jardim
Derrame o perfume sem fim
Mesmo que seja minha alma
Uma casa simples , pobre e pequena

Linda flor que brota alegre
Esconda o espinho que fere
Desperte do leve sono matinal
Embebeda-se no doce orvalho
Curve-se ao sol em reverência divinal

Linda flor por que estás triste?
Se seu perfume ainda entorpece
E sua cor não se evanesce
E és a mais bela que existe?

Linda flor que cesse seu pranto
Que o desespero jamais te alcance
Pois meu amor por ti é tanto
Que não cabe em apenas um instante
De todas as hipótes eu prefiro partir
Prum lugar distante onde o concreto não chegou
E o som da buzina não se atreveu a soar

Com toda sua paz esse lugar me atrai
E com a mesma intensidade repulsa os seus
Que consideram paraíso meu lugar de tormento

Trocaremos nossa paz
Mas um dia hei de voltar
sentindo falta da buzina
Farto de verde e luar

quinta-feira, agosto 03, 2006

Que versos escondem-se em mim?
Por que não querem vir á luz
Não querem saciar a sede
De quem deleita-se poeticamente

Brotem!Venham impregnar o ar
Com suas rimas desprovidas de som
Perpetuem-se nas mentes de quem os lê
Exprimam a dor de quem os compõem

Venham!Cubram-se com seus desejos
Derramem sobre mim seu ódio , suas paixões
Seus amores e desilusões
Sejam sóbrios e retos e tristes

Nunca mais vociferarei por sua causa
Jamais me entregarei ao desalento
Sua ausência deixa-me moribundo
Retornem e não permitam que eu morra

Que versos escondem-se de mim?
Desprezaram o que seria a luz
Ensandecidos,sugaram minhas minhas forças
Deixaram em mim só a que restava de si
Lamentos não me torturam mais
Libertei-me da prisão avassaladora

Lutei contra a tristeza que se impunha
Livrei minh'almada solidão

Nunca mais chorar,não ,nunca mais
Não se ouvirão gemidos jamais
Nefastos sonhos que me impediam o sono
Nem sombra deles restou

Serei o que jamais fui
Sempre sendo o que já era
Superando o eu inexistente
Surgindo novo e liberto

Terminada não foi minha história
Tudo resumiu-se em vida
Tendo a morte por expectativa
Toda envolvida em vitória
Como um delicado som do trovão
Irrompe sua voz em meus devaneios
Amenizando as tormentas ilusórias
Suave como um cristal despedaçado

Despida de suas pétalas ressequidas
Seus espinhos tornam-se meus
Meus torturadores impiedosos e sádicos
Um inverno emocional

A tempestade tropical do meu desespero
Livra-me dos relâmpagos de seus olhos
E a calmaria aflora como lavas de um vulcão
Encobrindo o terremoto de meus desejos

Em cores primaveris descoradas pelo sol
Colore-se nosso romance sem paixão
Dançando no céu cristalino de Dante
Perfumados pela brisa do mar

Em busca de identidade e um lar
Foge freneticamente do vendaval
Suspira por novos ares não infectados
De entorpecentes cinzas passionais

Não liberte-se de seu temores inúteis
Sua utilidade um dia será vista
Quando os vulcões adormecerem
E as nuvens cessarem seus prantos

Paz, paz, paz

Paz, paz ,paz
Anseio de todos os mortais
Guerras são travadas em seu nome
E mesmo na turbulência pode ser desfrutada
Paz que semeada foi sem pudor
Extenda seu seu brilho sobre a vida sofrida
Do povo destruído sem dó

Paz, paz ,paz
Revele a nós seus ideais
Sonhos e utopias marginais
Desça como orvalho da noite
Nos molhe o rosto sem cor
Desvencilhe nossas mãos das algemas
Espante os piratas de nosso mar
Sepulte os cães que ladram no ar

Paz ,paz, paz
Nunca seremos imortais
Assombrados desertaram do cais
Esquecendo da vida uma vez mais